A doação de D. Teresa de Portugal a Anaia Vestrares vai dar origem à linhagem Goes (depois ortograficamente metamorfoseada em Góis), que iria marcar presença na constituição do reino de Portugal, tanto em acções guerreiras, contra muçulmanos e castelhanos, como nas áreas da política, administração pública e religião. A “dinastia” dos Goes ocorre toda emplena Idade Média, desde o início do século XII ao desabrochar dos tempos modernos. Uma época ainda caracterizada pela sociedade bipartida, entre os homens livres e os de dependência servil, entre os que tinham poder e os que careciam de protecção, uma época em que a cultura se transmitia, por via oral ou visual, de cima para baixo. Assiste-se a lutas fratricidas pela posse das terras, no início com a força das armas, depois pela razão e pela política, lutas que não foram impeditivas da continuidade do senhorio pela mesma linha familiar. Um senhorio consolidado ao longo do tempo através da instituição de morgadio, de cartas de foro, da edificação dos paços senhoriais e do uso da sua própria jurisdição. Pouco a pouco, foi-se constituindo uma comunidade municipal, o concelho de Góis, de fronteiras geográficas definidas, ainda que modificando-se pontualmente, com eleição, pelos homens-bons, dos juízes ordinários, vereadores e de demais oficiais, independentes dos donatários. Durante este período, com duração aproximada de quatro séculos, apenas tiveram vida institucional as paróquias de Góis e da Várzea de Góis. As terras do Colmeal e Cadafaz teriam o estatuto de freguesia apenas no século XVI e as de Alvares, então sob a jurisdição do mosteiro de Folques, nunca fizeram parte do concelho de Góis, enquanto senhorio. A segunda perda de varonia, em meados do século XV, vai ocasionar o desaparecimento do apelido Goes nas terras da sua origem. Mas os Goes e os Góis iriam prosseguir noutros lugares, por uma diáspora que se direccionou sobretudo para o sul do reino e além fronteiras.
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1114* 13 de Agosto – D. Teresa de Portugal, regente do Condado Portucalense, e seu filho Afonso Henriques, de cinco anos de idade, fazem a doação das terras de Góis e de todos os seus termos a Anaia Vestrares** e a sua mulher Ermesinda Martins, para as povoar e desenvolver, “sem reservação de cousa alguma para a coroa”. São testemunhas as filhas de D. Teresa, Urraca e Sancha, o arcebispo Maurício de Braga, o arcebispo Bernardo Toledo, o bispo Gonçalo de Coimbra, o bispo Hugo do Porto e outras figuras ilustres. O conde D. Henrique tinha morrido e sua mulher D. Teresa ficara como regente do condado. _______ * Data imprecisa, tendo-se aqui seguido a proposta por Mário Paredes Ramos, em Arquivo Histórico de Góis, onde são apresentados argumentos justificativos. ** Admite-se serem Anaia Vestrares e Anião de Estrada, também referido documentalmente, uma só pessoa.
1124 Anaia Vestrares, donatário das terras de Góis, transfere o padroado da igreja de Góis* para o mosteiro de Lorvão, ao qual se encontra ligado afectivamente. Fundado no último quartel do séc. IX, este mosteiro tem grande importância na região, com relevância nas actividades de povoamento e assistência. _______ * Em processos judiciais, é referido que a igreja fora erigida por Anaia Vestrares.
1126 Gonçalo Dias, casado com Maria Anaia, filha de Anaia Vestrares, é nomeado alcaide de Coimbra.
1130 Dezembro – Anaia Vestrares participa na doação dos Banhos Régios de Coimbra, destinados à instalação do mosteiro de Santa Cruz.
1137 Gonçalo Dias deixa a alcaidaria de Coimbra.
1143 Abril – Gonçalo Dias de Goes contempla várias instituições religiosas com alguns dos seus bens e doa post mortem, ao mosteiro de Santa Cruz, a quinta parte de toda a sua herdade de Coimbra e outros bens. No seu testamento, pede para ser sepultado naquele mosteiro.
1148 É nomeado bispo de Coimbra, João Anaia, também conhecido por João Cirita, filho de Anaia Vestrares, donatário de Góis. Desde 1128, que vem sendo prior do cabido da Sé de Coimbra.
1148 (?) Morre Anaia Vestrares, o primeiro donatário de Góis. Tendo emigrado das Astúrias, tornou-se uma das figuras de maior prestígio da região, pelos cargos ocupados e fortuna pessoal. Era casado com Ermesinda Martins. Seu genro, Gonçalo Dias, casado com Maria Anaia, sucede-lhe no senhorio.
1149 22 de Fevereiro – Os filhos de Anaia Vestrares, Martin Anaia (alcaide-mor de Coimbra, casado com Toda Rendufes, filha de Rendulfo Soleima) e João Anaia (bispo de Coimbra) procedem à partilha dos bens deixados por seus pais. Julga-se que anteriormente já terá havido outra partilha, pela qual a sua irmã Maria Anaia, casada com Gonçalo Dias de Goes, terá ficado com o senhorio de Góis.
1150 (1160?) 21 de Fevereiro – Morre João Anaia, filho de Anaia Vestrares, bispo de Coimbra de 1148 a 1155. Neste ano fora deposto, por fortes desavenças com D. João Peculiar, exilando-se então em Zamora, Espanha, onde viria agora a falecer.
(?) Salvador Gonçalves, filho de Gonçalo Dias de Goes, sucede a seu pai no senhorio de Góis. Casou com Maior (ou Teresa) Mendes, filha de Mendo Afonso de Refoios, mordomo-mor de D. Afonso Henriques, e de Gontinha Pais da Silva. Tal como seu pai, tem uma especial devoção pelo mosteiro de Santa Cruz e os seus frades agostinianos.
1167 Setembro – Testamento de Salvador Gonçalves, doando ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra os casais que possui na herdade de Farinha Podre e ordenando que ali fosse sepultado.
(?) Pedro Salvadores de Goes sucede a seu pai, Salvador Gonçalves, no senhorio de Góis.
1243 14 de Janeiro – Morre Pedro Salvadores de Goes, senhor de Góis, casado com Maria Nunes de Espozade. Cavaleiro fidalgo, próximo de D. Afonso Henriques, representando-o em cerimónias públicas. Exerceu o cargo de dapifer regis, durante os últimos seis anos do seu reinado, entre 1179 e 1185, bem como funções oficiais em Coimbra. Vai ser sepultado, a seu pedido, no Mosteiro de Santa Cruz.
1269 Novembro – Nas “casas do Hospital”, em Coimbra, os filhos e sobrinhos de Pedro Salvadores de Goes fazem a partilha dos bens herdados. Entre outros ajustes, é de destacar: para frei Afonso Pires de Farinha, fica Góis, Várzea de Além*, Carvalhal do Sapo e Celavisa; para Vasco Pires Farinha e sua irmã Sancha, metade da Várzea de Aquém*; para outra filha e sobrinhos, a outra metade da Várzea de Aquém; das povoações Folgosa, Cerdeira, Cadafaz e Aigra, são feitos nove quinhões, a repartir pelos nove herdeiros. _______ * Anteriormente a 1655, a igreja matriz da freguesia situava-se na Várzea Pequena, entre a Mata e a ponte, no antigo Passal. Julga-se que, nos primórdios do concelho, o centro principal da Várzea de Góis seria ali, na margem direita do rio Ceira. Denominava-se então Várzea da Igreja ou Várzea de Aquém, enquanto, para o outro lado do rio, era a Várzea de Além. Mais tarde, alterou-se a sua importância relativa, por a margem esquerda se ter desenvolvido mais rapidamente. Já em 1527 se verificava uma diferença significativa do número de habitantes: pelo censo realizado nesse ano, havia 77 moradores na Várzea Maior e apenas 27 na Várzea Menor. Estas denominações na época, Maior e Menor, também são elucidativas da sua extensão.
1274 Testamento de Afonso Pires de Farinha, prior do Crato, filho mais velho de Pedro Salvadores de Goes, doando o padroado da igreja de Góis a seu irmão Vasco Pires Farinha.
1281 Setembro – Martim Gonçalves e sua mulher Maria Viegas doam carta de foro perpétuo à “Herdade de Alvares”, dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, do Mosteiro de Folques, concelho de Arganil, que é confirmada por D. Dinis.
c. 1282 Morre frei Afonso Pires Farinha. Foi prior da Ordem do Hospital, instituição a que dedicou grande parte da sua vida. Teve presença relevante na corte, durante os reinados de D. Dinis e D. Afonso IV, e participou activamente no processo da reconquista aos mouros. Vai ser sepultado, a seu pedido, na igreja do mosteiro de Vera Cruz do Marmelar.
O morgadio e os primórdios do concelho Pedro Salvadores de Goes herdara a Quinta de Farinha Podre.* Ali tinha o seu solar e os seus três filhos varões tomariam o apelido Farinha, dando início a uma nova linhagem. Por partilhas, em 1269, o filho frei Afonso fica com o núcleo principal do senhorio de Góis. Mas mais dedicado à actividade política e espiritual, junto da corte e da Ordem do Hospitalar, parece ter dado pouca atenção às suas propriedades na Beira. Seria o seu irmão Vasco o novo líder das terras de Góis, embora tenha herdado apenas uma pequena fatia, parte da Várzea Pequena e uma ou duas aldeias, como vimos. Depois de ter permanecido algum tempo nos meios políticos da corte, terá recebido do irmão Afonso, provavelmente depois da morte deste, o núcleo principal das terras, legitimando-se como donatário. Trava luta acesa pela posse do domínio, contra sobrinhos e outros parentes, que reivindicam também direitos ao senhorio, havendo luta violenta, com mortes e feridos, tornando-se necessária a intervenção de D. Dinis, a requerimento dos moradores, queixosos da guerra. Reconquistada a paz e o poder, Vasco Farinha demarca os novos limites do senhorio, fazendo trocas de terras e adquirindo outras. A vila, as várzeas, as aldeias e terrenos anexos passaram a constituir um espaço homogéneo sob a sua plena autoridade. Legitima os filhos, escolhendo um deles para seu sucessor. Do seu irmão freire obtém o padroado da igreja matriz, ao qual os seus avós já tinham direito, e da Coroa o beneplácito real para a posse do senhorio. Por fim, institui um morgadio, vinculando todos os seus bens, suficientemente estruturado para cimentar a autoridade do clã familiar e ter condições para, no futuro, impedir repartições das terras. Abre-se um novo ciclo na vida de Góis, na prática, o início da formação da sua unidade concelhia. _______ * Seria sede de concelho em 1836, mas com vida curta, pois foi extinto em 31 de Dezembro de 1853. Corresponde à actual vila S. Pedro de Alva, no concelho de Penacova, denominação dada por decreto de D. Luís, de 21 de Fevereiro de 1889.
1283 Têm-se travado lutas sangrentas entre grupos familiares, que se julgam com direito à posse das terras de Góis. Organizaram-se bandos armados, havendo a registar mortos e feridos. Garcia Raimondo de Goes, neto de Martin Anaia, é assassinado. Esta situação preocupava os habitantes da região, que pediram a intervenção de D. Dinis, para pôr termo ao conflito.
1284 6 de Janeiro – No capítulo do Convento de S. Domingos, na cidade de Coimbra, fez-se a reconciliação entre os que vinham tendo uma contenda pela posse da honra de Góis. Depois de estabelecida a paz e acordadas as condições, com cedências de bens e correspondentes indemnizações monetárias, ficou confirmada a pertença do senhorio em Vasco Farinha de Goes. Os seus familiares opositores comprometeram-se a deixar todos os bens que ali possuíam.
12 de Janeiro – D. Dinis homologa o acordo entre as fracções familiares que disputavam o senhorio de Góis.
Constata-se nas Inquirições que estão em curso, que algumas testemunhas de Góis afirmam “…ouviram dizer que foi doação que deu Elrei a D. Anaia Crastaris e que ouviram dizer que desse tempo foi povoada Celavisa, a Várzea e a Cabreira (…) que Cadafaz, Carvalhal do Sapo, Colmeal, Folgosa, Cerdeira e Albergaria foram povoadas no tempo do rei D. Sancho…”
1285 8 de Março – Vasco Farinha readquire terras no termo da vila de Góis, que o seu antepassado bispo D. João Anaia tinha doado à Sé de Coimbra, aumentando desse modo a área do senhorio. Fez troca por bens que possuía noutros locais, o que é confirmado nesta data pelo actual bispo D. Afonso.
1289* 16 de Outubro – D. Dinis concede a Vasco Farinha de Goes, seu vassalo, legitimação de um dos filhos, de nome Gonçalo Vasques, que teve de Marinha Pires, abadessa do mosteiro beneditino de Ferreira de Aves, no bispado de Viseu, de modo a que ele pudesse ser o seu herdeiro. Fica assim resolvido o problema de sucessão do senhorio, uma vez que Vasco Farinha não tem filhos legítimos. _______ * Por alguns autores, é referida o ano 1292, com a singularidade de, nesse caso, ser posterior à data da constituição do morgadio.
1290 Nas Inquirições da Beira e Alto Douro, que D. Dinis ordenou fazer em todo o reino, na luta contra os que ilegitimamente gozavam de direitos senhoriais, é confirmado serem as terras de Góis uma “honra” desde Anaia Vestrares.
5 de Junho* – Vasco Pires Farinha redige um testamento, fazendo herdeiro o seu filho Gonçalo Vasques, salvaguardando a hipótese de ele não vir a ter descendentes directos. Institui um morgadio, vinculando todos os bens móveis e de raiz que tinha em Góis e seu termo, de modo a que os bens não se repartissem nem se alienassem, e se mantivessem perpetuados na mesma linhagem. Depois de ter redefinido os limites das terras e assegurado a legitimidade da sucessão do seu filho predilecto, Vasco Farinha consolida o senhorio de Góis. _______ * Um dos traslados do testamento refere o ano 1300, data que foi considerada por alguns historiadores, mas Vasco Farinha parece ter morrido antes de 1297, ano em que seu filho toma posse do morgadio. Outros documentos referem ter sido beneficiado outro filho, Álvaro Vasques, provavelmente o primogénito, o que faz pressupor ter havido um anterior testamento, depois revogado.
c. 1291 Morre Vasco Pires Farinha, filho de Pedro Salvadores de Goes e Maria Nunes Espozade. Tendo reagrupado as terras e vinculando-as com um morgadio, bem pode considerar-se como o pai do “novo” concelho de Góis. Sucede-lhe seu filho Gonçalo Vasques de Goes.
1297 23 de Maio – É confirmada a jurisdição das terras de Góis a Gonçalo Vasques de Goes, filho de Vasco Farinha de Goes. A Quinta de Farinha Podre, situada fora do termo de Góis e portanto não vinculada ao morgadio, ficou para a sua irmã Maria Vasques.
1314 5 de Janeiro – É assinado em Coimbra uma carta de foral, regulando as relações entre o donatário de Góis, Gonçalo Vasques de Goes, e os moradores. Foram testemunhas, entre outros, João Pires do Linhar, procurador do concelho, Domingo Pires do Rego, juiz, Afonso Geraldes, alcaide, e João Pires, escrivão de Góis. É o primeiro foral do senhorio.
1336 Fevereiro – Gonçalo Vasques de Goes, senhor de Góis, desloca-se a Castela, para, em nome do Infante D. Pedro, filho de D. Afonso IV, receber por esposa D. Constança Manuel, filha dos reis castelhanos.
5 de Junho – Decorrem Inquirições nas terras de Góis, para informação e procedimento do cadastro do reino. Depois de feita uma inspecção e ouvidas testemunhas, é confirmado que as terras da vila e seus termos são de Gonçalo Vasques de Goes. É um poder antigo, dos seus antecessores, com direito a usar jurisdição, confirmar aqueles que os homens-bons elegessem e dar-lhes juramento, pôr juiz (para ouvir os feitos civis e crimes, dando as suas sentenças, com apelações para o donatário), nomear porteiro e alcaide.
(?) Gonçalo Vasques de Goes renuncia à posse do senhorio, a favor de seu sobrinho, Martim Vasques de Goes, filho de Maria Vasques e de Vasco Rodrigues. Tinha casado duas vezes, mas em qualquer delas sem geração.
1343 27 de Abril – Martim Vasques de Goes outorga a Góis uma carta de foral, alterando algumas cláusulas do anterior foral feito por seu tio, com desagravo de obrigações dos moradores. Neste documento participa também seu filho Nuno Martins, considerado pelo pai como o seu sucessor.
1345 (?) Abril – Morre Pedro Lourenço, prior da igreja de Góis, que será substituído por Fernão Gil, cónego de Coimbra.
1351 23 de Março – Sentença da cúria romana, proferida em Avinhão, no pontificado do Papa Clemente VI, a favor de Fernão Gil, prior de Góis, dando prova que o direito de padroado, in solido da igreja, fora sempre pertença dos donatários de Góis. E que já no tempo do falecido Pedro Lourenço, anterior prior, fora instituído e confirmado o padroado a Gonçalo Vasques de Goes.
1359 Em consequência da aliança luso-castelhana, Martim Vasques de Goes, senhor de Góis, anda combatendo nas guerras entre Castela e Aragão, ao serviço do nosso rei D. Pedro I, de quem é conselheiro.
1367 Gonçalo Vasques de Goes tem sido escrivão da puridade de D. Pedro I, desde 1357 até à morte do rei, agora ocorrida. Era um lugar privilegiado, espécie de “primeiro-ministro de despacho”, praticamente criado para ele. Desde D. Afonso IV que ele vem ocupando uma posição de relevo na corte, nomeadamente como secretário particular e conselheiro do rei.
1373 15 de Agosto – No Largo de Pombal, sob o velho carvalho junto à fonte, local simbólico da História de Góis, Martim Vasques de Goes reúne-se com o juiz, vereadores, homens-bons e moradores da vila, e mostra-se arrependido de doações feitas no passado. Reconhece que as cláusulas do morgadio não lhe permitiam dispor dos bens, pelo que revoga essas doações. Confessando o erro e disposto a emendá-lo, salvava a alma, salvaguardava os direitos do sucessor e evitava guerras que já se adivinhavam entre descendentes preteridos. A mulher e filhos tinham falecido da “peste negra” que assolara várias regiões do reino e via aproximar-se o fim da sua vida.
1376 (?) Morte de Martim Vasques de Goes. Toma posse do senhorio seu filho Estevão Vasques de Goes.
1377 10 de Abril – Estevão Vasques de Goes, o novo donatário, constitui uma colegiada na Igreja de Santa Maria de Góis, em compromisso in solido com o seu prior Fernão Gil. A sua função é promover o culto divino com a maior solenidade, tendo sido estabelecido as obrigações e o regimento, semelhantes aos das igrejas colegiadas de Coimbra. São quatro os clérigos desta nova instituição, tendo sido agora nomeados: Lourenço Anes, A. Anes, A. Esteves e André Mateus.
1378 25 de Março – É confirmado prior da Igreja de Santa Maria de Góis, o clérigo Afonso João, à apresentação de Estevão Vasques, como padroeiro in solido.
1380 6 de Maio – Em reunião efectuada nos paços do concelho de Góis, entre Estevão Vasques de Goes e as forças vivas locais, e na presença do notário na vila, Pedro Afonso, é sanado um conflito que se vinha arrastando há já algum tempo, envolvendo irregularidades cometidas na cobrança de impostos e danificação do património do senhorio. É invocada a carta da instituição do morgadio e reiterada a obrigação de se seguir as suas cláusulas.
23 de Setembro (domingo) – Nos paços do concelho de Góis, foi mostrada uma sentença do rei D. Fernando, concedendo perdão régio ao donatário de Góis, relativo a pagamentos de foros. Estêvão Vasques de Goes, por um lado, e o procurador do concelho Estêvão de Vicente, a Câmara Municipal de Goes e o povo, por outro, acordaram que os senhores da terra pudessem penhorar os devedores de jeiras, jugadas e outros direitos, como fora sempre costume, porém, que fossem presos apenas quando não dessem as penhoras ou as escondessem com malícia.
(?) Numa das três “guerras fernandinas” travadas por Portugal contra Castela, morre Álvaro Vasques de Goes, filho e sucessor de Estevão Vasques de Goes no senhorio de Góis (as guerras foram em 1369-70, 1372-73 e 1381-82).
1385 Abril – Nas cortes realizadas em Coimbra, para atribuição da Coroa de Portugal, Estevão Vasques de Goes, senhor de Góis, figura do lado dos partidários de D. João I.Agosto – Nas vésperas da batalha de Aljubarrota, Estevão Vasques de Goes é armado cavaleiro por D. João I.
c. 1387-1389 Em retribuição da sua participação na batalha de Aljubarrota, Estevão Vasques de Goes é nomeado alcaide-mor da cidade de Lisboa.
1389 28 de Abril – Por testamento, Estevão Vasques de Goes deixa o senhorio de Góis a sua neta Mécia Vasques de Goes. Era filha de Álvaro Vasques de Goes*, que morrera nas guerras travadas contra o reino de Castela. _______ * A sua paternidade é ponto de discórdia entre os genealogistas. É referida também como descendente de Pedro de Goes ou de Nuno de Goes, outros filhos de Estevão Vasques de Goes.
c. 1389 Morre Estevão Vasques de Goes.
Contendas pela sucessão. O fim da linhagem. Nesta parte final da dinastia dos Goes, a sucessão no senhorio adquire alguma turbulência. Por duas vezes travam-se disputas pela sua conquista, em qualquer delas vindo a ter uma importância crucial a intervenção do rei. A primeira sucede depois da morte de Estevão Vasques de Goes, ocorrida ao redor de 1389. São anos um pouco obscuros, com divergência dos historiadores sobre o que na realidade se terá passado e quem eram de facto os pretendentes às terras de Góis. A ausência de varonia e um testamento contrário ao que estava estabelecido nos termos do morgadio, tornou difícil a sucessão. Valeu a boa diplomacia de D. João I. A segunda vez, agora numa contenda que se prolonga por dezenas de anos, foi com os sucessores de Mécia Vasques de Goes. Após a sua morte, ocorrida em Góis no ano 1444, os dois filhos mais velhos julgaram-se ambos com direitos ao senhorio. Gomes Martins de Lemos, provavelmente o primogénito, ainda foi donatário durante um período de cerca de três anos, mas seria afastado e preterido pelo seu irmão Fernão. D. Afonso V, muito jovem e algo desastrado, foi o monarca interventor. A dinastia continuaria por Fernão Gomes. Mas por pouco tempo, já que nova quebra de varonia faria despontar a nova linhagem dos Silveiras, pondo termo à dos Goes.
(?) Mécia Vasques de Goes casa com Gomes Martins de Lemos, aio de D. Afonso, conde de Barcelos.
1392 (?) D. João I doa a Gomes Martins de Lemos, marido de Mécia Vasques de Goes, a colheita de Góis e a autorização para ter ouvidores. Trata-se de um reforço da posição de Mécia Vasques como donatária, que tinha herdado o senhorio por testamento de seu avô.
1395 Pondo termo às lutas de sucessão pelo morgadio de Góis, e indo contra aos que têm tentado embargá-la, D. João I sentencia que as terras são pertença de Mécia Vasques de Goes e de seu marido Gomes Martins de Lemos.
1400 Lourenço Anes é confirmado padre na igreja de S. Pedro da Várzea, apresentado por Gomes Martins de Lemos e sua mulher Mécia Vasques de Goes.
1415 21 de Agosto – Na tomada de Ceuta, participam Gomes Martins de Lemos e seu filho, Fernão Gomes de Goes, que por essa ocasião fora armado cavaleiro por D. João I.
1419 24 de Fevereiro – Encontrando-se vaga a igreja de S. Pedro da Várzea, por morte de Lourenço João, D. Fernando, bispo de Coimbra, confirma como seu novo reitor o clérigo João Esteves, à apresentação in sólido de Gomes Martins de Lemos e de sua mulher.
1426 3 de Junho – D. João I confirma os privilégios, liberdades e foros que tinham sido outorgados a Góis pelos reis seus antecessores.
1430 28 de Abril – Em consequência de um conflito que decorria entre o prior da igreja de Góis, Nuno Fernandes, e alguns raçoeiros da colegiada, D. Fernando, bispo de Coimbra, institui um novo regimento, conforme consta de sentença passada nesta data.
1433 Morre Gomes Martins de Lemos, casado com Mécia Vasques de Goes. Pertencente a uma das mais ilustres famílias, teve uma acção relevante na corte de D. João I e nas guerras contra Castela. Vai ser sepultado na igreja matriz de Góis. A ligação da linhagem Lemos ao senhorio de Góis ocasionou uma mudança das armas dos Góis, que passaram agora a ter cadernas.* _______ * As armas dos Lemos possuem cinco cadernas em aspa, ficando as de Goes com seis cadernas em pala e sem as antigas torres e mosquetas de arminho.
Sentença de D. João I, confirmando Mécia Vasques de Goes como a legítima donatária das terras de Góis, com jurisdição de civil e crime. Seu pai tinha morrido e seu avô, Estevão de Goes, fizera-a herdeira em testamento.
Mécia Vasques de Goes toma posse do morgadio de Góis.
20 de Dezembro – D. Duarte, acabado de subir ao trono, confirma a Mécia Vasques de Goes e a seu filho Fernão Gomes de Goes, a jurisdição das terras, coutos e honras que possuem em Góis. Podem pôr ouvidores, julgar dos feitos e apelações, e proferirem sentenças.
23 de Dezembro – Apoiando-se numa carta de D. Afonso IV de 1335, D. Duarte reconfirma a Mécia Vasques de Goes os seus direitos sobre a jurisdição de Góis.
1435 5 de Março – Realizou-se em Góis, na presença do notário Álvaro Nunes, a partilha dos bens de Gomes Martins de Lemos.
1438 Mécia Vasques de Goes redige testamento, nomeando o seu filho Fernão Gomes de Goes, que a vem ajudando nos negócios, como sucessor do senhorio de Góis. Pede também a D. Duarte que reconfirme a sucessão a este seu filho, lembrando que já tinha prestado serviços à Coroa como camareiro-mor de D. João I.
A sucessão do morgadio tem vindo a ser reivindicada por outro filho, Gomes Martins de Lemos, “o Moço”.* _______ * Fernão Gomes de Goes tem sido considerado por historiadores e genealogistas como o filho mais velho de Mécia de Goes. É dúbia essa primogenitura, o que poderá justificar a longa contenda travada com o seu irmão Gomes, que se julgava com direitos ao senhorio (tese defendida por Lurdes Rosa, em trabalho de mestrado). D. Afonso V chega a mudar de opinião e o assunto enviado para os letrados da Cúria Romana, para se pronunciarem. Gomes viria a perder a sua causa e provavelmente, por esse facto, o morgadio de Góis não seria integrado na Casa dos Lemos. Justifica-se assim a existência deste testamento de Mécia de Goes, quando as normas do morgadio já estabeleciam claramente a lei de sucessão.
1442 D. Pedro, regente, abre excepção ao disposto na Lei Mental, permitindo que as terras de Fernão Gomes de Goes passassem para a sua filha primogénita, no caso de ele falecer sem filhos varões.
1444 Morre Mécia Vasques de Goes. Seu filho Fernão Gomes de Goes toma posse do senhorio, com beneplácito da Coroa.
1447 31 de Julho – Tendo Gomes Martins de Lemos reivindicado direitos sobre o senhorio de Góis, invocando o seu estatuto de filho mais velho, D. Afonso V não altera as decisões dos anteriores monarcas.
1448 23 de Julho – Dá-se um volte-face na sucessão do senhorio. D. Afonso V retira o senhorio a Fernão Gomes de Goes e entrega-o a seu irmão Gomes Martins de Lemos. O rei alega que, por morte de Mécia de Goes, o morgadio é pertença da Coroa e, desse modo, tinha poderes para lhe dar o destino que melhor entendesse.
1449 13 de Novembro – Gomes Martins de Lemos, “o Moço”, donatário de Góis, é o primeiro senhor de Trofa (do Vouga).
1450 27 de Dezembro – O clérigo Fernão Bento Vasques é confirmado prior da igreja de Góis.
1451 (?) Casamento de Beatriz Lemos de Goes com Diogo da Silveira, filhos de Fernão Gomes de Goes e de Nuno Martins da Silveira, respectivamente, unindo assim as Casas dos Goes e dos Silveiras.
1451 13 de Setembro – Em sentença desta data, D. Afonso V restitui o senhorio de Góis a Fernão Gomes de Goes, anulando a sua decisão de 1448. Apoiou-se no acórdão de seu pai, D. Duarte, em 1433.
1452 9 de Julho – Por sentença do vigário geral do bispado de Coimbra, é confirmada autorização para o enterro dos habitantes de Góis ser feito ser no claustro da igreja matriz, como já era costume local.
18 de Julho – D Afonso V nomeia, por três anos, Pero Fernandes, escudeiro de D. Diogo da Silveira, morador em Góis, para o cargo de coudel nas vilas de Góis, Oliveira de Conde e São Gião.
4 de Outubro – Confirmando a resolução de D. Pedro, no ano 1442, D. Afonso V decreta que, por morte de Fernão Gomes de Goes, as terras de Góis sejam transmitidas à sua filha lídima Beatriz, abrindo uma excepção à Lei Mental.* Na prática, trata-se de uma doação, prevendo a hipótese de os seus direitos virem a ser questionados. _______ * Esta lei, promulgada por D. Duarte em 1434, determinava que as terras doadas só podiam ser transmitidas ao filho varão primogénito, consagrando a exclusão da linha feminina. Em princípio, dizia respeito à sucessão dos bens da Coroa, mas essa interpretação não foi pacífica, querendo aplicar-se a todas as doações. Na prática, seria uma lei bastante complacente e manter-se-ia em vigor até 1832.
1453 Diogo da Silveira é nomeado para o cargo de escrivão da puridade, um lugar que vinha sendo ocupado pelo seu pai.
1454 28 de Abril – D. Afonso V confirma o contrato de casamento entre Diogo da Silveira e Beatriz Lemos de Goes, filha de Fernão Gomes de Goes e Leonor da Cunha, com a doação do morgadio de Góis.
1455 21 de Janeiro – Confirmado como prior da igreja de Santa Maria de Góis o clérigo Luís Esteves, à apresentação in solido de Fernão Gomes de Goes, senhor de Góis.
28 de Dezembro – D. Afonso V confirma que, por morte de Fernão Gomes de Goes, Diogo da Silveira, seu genro, terá direito ao senhorio de Góis, com todas as suas rendas, direitos e padroados.
1458 Janeiro – D. Afonso V confirma que o senhorio de Góis é pertença de Fernão Gomes de Goes, com a intenção de pôr termo às pretensões do seu irmão.
Outubro – Fernão Gomes de Goes participa na conquista de Alcácer Seguer, no norte de África.
Morre Fernão Gomes de Goes, o último donatário varão da linhagem Goes. Foi casado com Leonor da Cunha, herdeira das terras de Penalva e S. Gião. Vai ser sepultado em Oliveira do Conde, concelho de Carregal do Sal, na capela-mor da igreja matriz. A sua amizade e convívio com a família Silveira, sua vizinha em terras alentejanas, motivou a entrada desta linhagem nas terras de Góis.