As festas religiosas, nas nossas aldeias, têm tradições de séculos, inclusive dias certos, caso do segundo domingo de Agosto, no Colmeal. Pelos elementos manuscritos disponíveis, sabemos que, pelo menos desde 1851 até 1910, as festividades anuais eram em louvor do Santíssimo. Na procissão, conforme as disponibilidades financeiras, nalguns anos era incorporada filarmónica, lançados os já tradicionais foguetes, morteiros e, por vezes, fogo de artifício. Nos festejos religiosos, e como era hábito no século anterior, participavam vários padres e pregadores, sendo os encargos gerais na ordem dos 15 reis. E a ”música” (filarmónica), quando actuava, cobrava 16 reis, parecendo-nos verba muito avultosa. Dentro da sua competência, as festividades eram organizadas e pagas pela Junta da Parochia, cuja despesa obrigatoriamente constava do orçamento da autarquia paroquial, a aprovar pelo Governo Civil ou Câmara Municipal do concelho, sendo as contas apresentadas em Tribunal, absorvendo todas as entidades emolumentos. Apesar de não ser fácil determinar o ano exacto, somente depois da implantação da I República, separação da Igreja do Estado, os festejos passaram a ser efectuados em louvor do Senhor da Amargura e as Seladas o centro da fé dos colmealenses. A imagem do Senhor dos Passos (Senhor da Amargura, para os colmealenses), com uma cabeça sobressalente raramente utilizada, foi adquirida há um século, em 1892, custando 93 reis e 60 vinténs, montante no qual certamente foi incluído o transporte desde a origem (em que localidade ou região terá sido esculpida a imagem?), e que hoje, supomos, representa algumas centenas de contos. Embora nada tenhamos encontrado manuscrito que o confirme, eliminando lendas e coligando dados credíveis recolhidos oralmente há muitos anos, presumimos a imagem ter chegado ao Colmeal em 8 de Setembro de 1892, tendo-se nesse dia organizado procissão que percorreu a aldeia (…) Fernando Costa (O Varzeense, Março de 1992)