A industrialização do concelho e a paralisação da Companhia de Papel de Góis
É de conhecimento generalizado a baixa industrialização do nosso concelho, a qual muito tem contribuído para ao atraso sócio-económico da sua população. Num estudo que nível nacional foi realizado há uns tempos, o concelho de Góis figurava em 258º lugar entre 274 concelhos do continente, no que respeita ao índice de Poder de Compra (IPC=0 .30, contra, por exemplo, 1.15 da Lousã, 0.84 de Arganil, 0.43 de Vila Nova de Poiares, 0.32 de Pampilhosa da Serra); e, sem qualquer sombra de dúvida, esta diferença tem aumentado substancialmente nos últimos anos, atendendo á estagnação da nossa vida económica, comparativamente com os restantes concelhos, tudo levando a crer que Góis deve encontrar-se presentemente no pelotão nacional muito perto da lanterna vermelha. Analisando os principais vectores que explicam, e de certo modo justificam, o estado de desenvolvimento industrial, conclui-se que de facto é alarmante a situação. Podemos fazer essa análise de três modos diferentes. Por um lado, pelas estatísticas do seu passado recente que até nós nos chegam, através de números que, embora frios na sua aparência, são bem significativos. Não nos podemos esquecer que o complexo de duas unidades de papel em Ponte do Sotam desvirtua todas as estatísticas oficiais, já que elas absorviam 70% da mão-de-obra e uma grande parte do VAB (Valor Acrescentado Bruto). Assim, se considerarmos as restantes empresas de indústria transformadora, praticamente uma dúzia e meia, verificamos que, tanto o grau de industrialização (VAB a dividir pela população residente), como o total da população activa afecta a este sector (apenas cerca de 2% da população total), apresentam valores extremamente baixos. Por outro lado, a ausência nos últimos anos de investimentos importantes. O único projecto apresentado oficialmente até fins de 1988, com o objectivo de obtenção de apoios oficiais, era novamente no sector papeleiro. Em terceiro lugar, a falta de incentivos a nível local. Todos sabemos como é importante para o pequeno e médio potencial investidor a existência de apoios, mesmo muitas vezes intervindo como factor psicológico, quer no campo da animação quer no da confiança. Dos concelhos de toda a Beira Serra, Góis é o único que não tem, ou se os tem não são do domínio público, vestígios de uma política industrial definida, nomeadamente na área das infra-estruturas de suporte.
Estão a aparecer no entanto, nesta panorâmica geral, alguns sinais de mudança. Uma unidade metalo-mecânica foi incentivada para se deslocar do litoral do País para o nosso concelho. E aqui é justo dizer que a Câmara Municipal está a dar o apoio que lhe foi solicitado. Um projecto para a instalação em Góis de uma outra unidade, também do ramo metalo-mecânico, foi devidamente estudado em Arganil e irá ser apresentado ao Ministério da Indústria para obtenção de apoio financeiro. A ACIBEIRA tem incentivado e realizado outros projectos de investimento, em 5 ou 6 unidades, desde Alvares a Vila Nova do Ceira, alguns deles com muitas probabilidades de concretização a curto prazo. E ouvem-se rumores de outras hipóteses, no campo da olaria, da transformação de papel e da agro-pecuária. A isto não tem sido estranha a motivação originada pelas “Jornadas sobre as Potencialidades do Concelho”, o esforço e entusiasmo de alguns goienses empenhados neste assunto e, naturalmente, também os apoios financeiros que a nível nacional e europeu são postos à disposição. Ainda é muito pouco, se compararmos com o que se passa noutros concelhos. Mas esperemos que o entusiasmo se multiplique, que os goienses readquiram a confiança nas possibilidades do concelho e que os nossos responsáveis tenham a arte e o engenho para aqui trazerem capitais e técnicas do exterior. Para isso torna-se também necessário, e mais do que nunca, uma conjugação de esforços, a todos os níveis, de modo a poder-se maximizar os resultados.
A Companhia de Papel de Góis, criada em 1920/21, teve um papel preponderante na vida económica e social do concelho, ao longo de uma grande parte dos seus 178 anos de existência. Os acontecimentos que recentemente sucederam nesta empresa não podiam vir em pior altura para o concelho. A sua forçada inactividade, para além de grandes consequências económicas, veio criar um problema social. Mais de duzentos trabalhadores viram-se obrigados a ir para o desemprego, melhor dizendo, para um regime de suspensão de trabalho, o que na prática, se considerarmos os seus familiares, afecta a vida de muitas centenas de pessoas. E se alguns deles vão conseguindo trabalho noutros locais, a maior parte em regime precário, o problema não diminui de dimensão. O assunto é grave para o concelho, pelo acréscimo da fragilidade da nossa economia, pelo aumento da nossa emigração (já de si elevada) e pelos problemas sociais que levanta, quer no interior das famílias, quer ao nível da comunidade local, onde alguns vícios e novos hábitos desaconselháveis se vão instalando. O assunto é demasiado grave para deixar de merecer preocupação de todos os goienses. Sabemos que a Administração não se tem poupado a esforços para encontrar uma solução que leve à viabilização da empresa, nomeadamente com tentativas feitas em alguns países da Europa. E podemos acrescentar, o que aliás é já do domínio público, que está em vias de se concretizar uma boa solução, possibilitando mesmo a execução dos planos de expansão que têm sido levado a cabo nos últimos anos. Quando escrevemos estas linhas, ainda não se avista o tão desejado fumo branco. São umas centenas de pessoas que todos os dias acordam na esperança de uma boa nova. É uma terra que, dia a dia, aguarda tornar a ouvir o ruído característico dos refinadores e dos cilindros, bem seu conhecido ao longo de uma vida inteira. É todo um concelho que está com os olhos postos em Ponte do Sotam.