INSTRUÇÃO ESCOLAR
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O estado da instrução no Concelho de Góis
De um Relatório do Presidente da Junta Escolar de Góis, Dr. José Afonso Baeta Neves, de 10 de Novembro de 1919: «No momento em que se instala e começa o exercício das suas importantes funções, a Junta Escolar deste concelho, criada pelo decreto com força de lei nº 5.787 A de 10 de Maio do corrente ano e de que faço parte pela circunstância meramente fortuita e casual de ser o Presidente da Câmara Municipal, julgo da maior oportunidade chamar a atenção dos meus colegas nesta nova corporação para a grandeza e responsabilidade da missão que fomos chamados a desempenhar e da influência que a nossa acção há de ter sobre a instrução primária geral do nosso concelho. (...) O nosso concelho, montanhoso em toda a sua extensão, ocupa uma superfície de 288,72 km2 e tem, segundo o censo de 1911, 12.974 habitantes e 3.063 fogos, o que dá a média de 4,3 habitantes por fogo e 45,3 habitantes por km2. Compõe-se de 5 freguesias, com 18 escolas repartidas pela forma seguinte: Góis, sede de concelho e de freguesia, escolas do sexo m. e f., 2; Ponte do Sotam, a 6 km, escola mixta, 1; Cerdeira, a 8 km, escola mixta, 1; Bordeiro, a 3,5 km, escolas m. e f., 2; Várzea, sede de freguesia, a 5,5 km, escolas m. e f., 2; Colmeal, sede de freguesia, a 18 km, escolas m. e f., 2; Cadafaz, sede de freguesia, a 10 km, escolas m. e f., 2; Alvares, sede de freguesia, a 20 km, escolas m. e f., 2; Cortes, a 22 km, escola mixta, 1; Mega de S. Domingos, a 20 km, escola mixta, 1; Chã de Alvares, a 15 km, escola mixta, 1; Roda, a 12 Km, escola mixta, 1. Tem pois o concelho de Góis uma escola para cada 170 fogos ou para 731 habitantes, visto que cada fogo tem a média de 4,3 habitantes. As escolas de Bordeiro, que por me serem vizinhas me terem despertado maior atenção, devendo ser frequentadas pelas crianças das povoações de Bordeiro, Cabeço, Regateira, Outeiro, S. Martinho, Piães, Póvoa, Silvado, Vale Boa, Vale do Godinho, Vale de Maceira e talvez Liboreiro, e que, sem contar a última, contam 215 fogos, devem aproveitar a cerca de 900 habitantes. Das diversas escolas do concelho, apenas funcionam em edifícios próprios, mas antigos, a do sexo masculino de Góis, modelo do Conde de Ferreira, a do Cadafaz em edifício mandado construir pelo grande benemérito Barão de Louredo, e a do Colmeal em edifício construído à custa de freguesia, senão estou em erro. A do sexo masculino de Alvares funciona no pequeno edifício que serviu de paços do concelho do antigo concelho de Alvares, extinto há mais de meio século, e a de Cerdeira, na freguesia de Góis, actualmente fechada por falta de casa para residência da professora, em edifício construído pelos patrióticos filhos da povoação, mas ignoro se satisfaz por completo as condições exigidas pelo fim a que foi destinado. Todas as outras encontram-se instaladas em casas arrendadas, edificadas para habitações particulares e não para escolas, e por consequência em deficientes condições higiénicas e pedagógicas. Não me sendo ainda conhecido o recenseamento escolar, não posso afirmar se as 18 escolas são ou não suficientes para a actual população do concelho, mas a dúvida só deve subsistir até ao momento em que a Junta receba a relação das crianças em idade escolar, a qual, nos termos da lei, vai mandar extrair do registo dos nascimentos. Quanto às condições em que funcionam as escolas, só poderão ser conhecidas quando a Junta as vistoriar, como é seu dever, mas pode desde já afirmar-se que nenhuma satisfaz por completo às que hoje são julgadas indispensáveis. Em consequência, à Junta cumpre promover oportunamente a construção de edifícios escolares, e começar por aquelas localidades em que as escolas estão menos bem instaladas e são mais frequentadas, não deixando também de ter em conta o auxílio dos particulares que lhe for oferecido para as respectivas obras e a importância da localidade. Actualmente apenas há em construção em todo o concelho, um edifício escolar, que é o de Bordeiro, e que deve ficar em condições de nele serem instaladas as duas escolas, cantina, pequeno museu regional e biblioteca, e ficar concluído no fim do verão de 1920. Concluído que seja e dotado do necessário mobiliário, material escolar e cantina, nenhuma razão material haverá que se oponha à frequência das crianças das povoações acima referidas, todas a menos de 3 km de distância da escola, e poderá impor-se a frequência obrigatória, se for necessário, ao menos nesta parte do concelho.» (de A Comarca de Arganil, de 15.4.1920) * * A instrução no concelho, em 1947 A rede escolar do concelho abrange 25 núcleos, assim classificados: seis escolas masculinas, com as suas sedes em Alvares, Chã, Bordeiro, Góis, Ponte do Sotam e Vila Nova do Ceira; seis femininas, com as suas sedes em Alvares, Chã, Bordeiro, Góis, Ponte do SoTam e Vila Nova do Ceira; e sete mistas, com as suas sedes em Cortes, Mega de S. Domingos, Amioso do Senhor, Roda Cimeira, Cerdeira, Cabreira e Colmeal, havendo ainda quatro postos escolares - um em Simantorta, e os outros, em Cadafaz, Sandinha e Corterredor. De todas as escolas referidas, só estão ainda instaladas em edifícios próprios, e portanto com as indispensáveis instalações de higiene, de capacidade e de alegria, as escolas masculinas e femininas de Góis e de Bordeiro, e as mistas de Cerdeira, Cabreira e Colmeal, bem como os quatro postos escolares existentes. Quanto a instalações próprias para o funcionamento das escolas desse concelho, a situação é ainda muito crítica e desagradável. Tal situação, porém, em breve se vai modificar, porque se encontram bastante adiantados, os edifícios expressamente construídos para esse fim, com duas salas cada um, em Alvares, Chã, Cortes, Ponte do Sotam e Vila Nova do Ceira. E será extinta em Cortes a sua actual escola, mista, para se desdobrada em escola masculina e feminina. O recenseamento escolar do último ano acusa a população de 1 238 crianças: 644 do sexo masculino e 594 do feminino. Mais 46 do sexo forte. Ora destas 1 238 crianças recenseadas, acorreram à matrícula das suas escolas e postos escolares, 753 alunos, 464 e 289 de cada sexo, não fazendo, portanto, 176 e 305 crianças, respectivamente do sexo masculino e feminino. Dividindo a população escolar recenseada pelos seus 25 núcleos, vê-se que cabe a cada professora a leccionação de 49 crianças, números redondos. Passemos agora à apreciação do aproveitamento escolar no ano findo (...) (de A Comarca de Arganil, de 16.12.1947) * * Notícias de Vila Nova do Ceira Esta freguesia, que desde o começo do século passado, possui uma escola primária para o sexo masculino, e desde 1878 uma outra para o feminino, pois nessa data na freguesia, entre as suas almas, havia 116 meninas na idade escolar, dos 7 aos 14 anos, nunca, para o efeito, teve um edifício próprio. Os professores administravam o ensino em salas de casas particulares, cedidas quase em regime de caridade pública ou em alugueres que o mesmo significavam. Como é óbvio, estas económicas instalações, que serviram tanto tempo, mas apenas por servir, não podiam satisfazer as modernas exigências do ensino, Por isso, há uma meia dúzia de anos, a população resolveu construir, e a expensas suas, um edifício escolar misto, e obteve por subscrição, sobretudo patrocinada pelos seus conterrâneos em Lisboa e, entre estes, por égide dos irmãos Travassos, a importante soma de cinquenta mil escudos. A Câmara Municipal cederia apenas o terreno para a construção do edifício, ficando assim resolvido o assunto. Entretanto, pela execução do plano de construções, chamado "dos Centenários", coube a esta freguesia um edifício escolar misto para a sede e outro, singelo, para o posto de ensino em Chã dos Santos. (...) Nestas circunstâncias, fez-se uma avaliação dos terrenos que se adquiriram, pagando-se; fez-se uma expropriação, construiu o Estado e edifício e o muro artístico em frente da sua cêrca e abriram-se as duas artérias de acesso que serviriam não só para o trânsito mas para aprazível passeio público. (…) (de O Jornal de Arganil, de 14.5.1953) ** Na Freguesia de Cadafaz CADAFAZ O primeiro edifício escolar foi mandado construir por Manuel Lourenço Baeta Neves, barão de Louredo, nos anos 50 do século XIX, na sede da freguesia. Natural de Corterredor, foi um dos grandes beneméritos da freguesia. Em 1922 foi construída uma nova escola, agora destinada ao sexo feminino, por José Domingos Alves Baeta, também ele natural de Corterredor e emigrante no Brasil. «A este homem [José Domingos Alves Baeta] se deve a escola primária que, de sua conta, mandou construir no ano 1922 em Cadafaz, cujas datas e iniciais estão por cimo da porta de entrada. Esta escola seria destinada ao sexo feminino, uma vez que já havia uma para rapazes, mas até aquela época as meninas seriam poucas as que aprendiam a fazer uma carta, e isto em ensino particular. Demonstrava este senhor a preocupação na educação da juventude da sua terra, talvez por ser dotado de boa e grande inteligência. Assim passou o Cadafaz a ter uma escola para cada sexo a servir toda a freguesia. Quanta dificuldade e frio passaram estas crianças naqueles dias de inverno! Na dos rapazes, era ao tempo o professor, um senhor da povoação da Sandinha, desta freguesia, de onde era natural, vindo todos os dias a cavalo para ministrar os seus ensinamentos, sendo bem patente a sua competência, porque os alunos saídos das suas aulas tinham lindas caligrafias, que ainda hoje dá prazer ler. Por falecimento deste senhor, que se chamava Manuel Luiz Júnior, passou a escola ao sistema misto. Penso que a primeira professora desta escola, Albertina Alves Pais, natural de Anceriz, aqui permaneceu alguns anos, sucedendo-lhe uma outra senhora, Laurinda Maria da Silva, que pertencia a uma terra da freguesia de S. Pedro d’Alva, e também alguns anos aqui se manteve, indo depois para o Covelo, onde tinha familiares. Esta senhora vivia em Coimbra com sua família e, com 94 anos, faleceu no passado mês de Dezembro. Esta escola, construída e doada à freguesia, serviu mitos anos toda a juventude, até que por ordens superiores foi mandada construir uma nova (…) Hoje, a que serviu para os rapazes foi remodelada, funcionando ali a Junta de Freguesia e Posto Médico. Na que foi doada, foi adquirida pela União Recreativa do Cadafaz [nos anos 70], funcionando como sua sede e o café da nossa aldeia» Luciano Nunes dos Reis (O Varzeense, finais do séc. XX?) CABREIRA «Foi feita uma escola em 1931 e a maior parte do capital foi despendida pelo senhor Manuel Francisco Martins, natural de Capêlo, a quem se deve a iniciativa da escola. Foi seu colaborador o senhor tenente Afonso Neves, do Tarrastal e o senhor Manuel Carneiro, da Sandinha, que contribuiu com uma boa quantia e esforços.» (Livro de actas da Comissão de Melhoramentos da Cabreira) SANDINHA Também em 1931 começou-se a fazer uma escola na Sandinha, mas só seria concluída alguns anos depois, por dificuldades financeiras. CORTERREDOR A sua escola abriu oficialmente em 1935, com 37 alunos. Esteve em actividade durante 45 anos, de 1935 a 1980. Em 1982 foi entregue à Comissão de Melhoramentos, para ali ser instalado o Centro de Convívio, que, após obras de restauro e ampliação, seria inaugurado em Julho de 1997. A primeira professora foi Umbelina Carmina Azevedo Osório Ramos e a última, Maria Helena Patrão Tavares. (Lucinda Nunes Rosa, em O Varzeense de 25.9.2003) ** |
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