A procissão em honra de S. João Baptista é uma tradição muito antiga, certamente com, pelo menos, um século de existência. (…) Após a procissão, segue-se o tradicional leilão de fogaças. Esta é uma tradição que se foi perdendo na região ao longo dos anos. Cortes é actualmente a única aldeia que ainda preserva o leilão das fogaças, transportadas, ao longo do trajecto da procissão, à cabeça, sobretudo de mulheres. A designação de “fogaça” teve origem no bolo que outrora se oferecia à Igreja por alturas de festas populares e que era vendido em leilão. Hoje em dia, dá-se o nome de fogaças não ao bolo em si, mas ao conjunto de bens alimentares leiloados. As fogaças são andares de madeiras ornamentados som papéis coloridos, compostos por três andares, nos quais se colocam produtos alimentares doados. Há, por exemplo, uma fogaça cujos bens alimentares foram oferecidos pelas donas-de-casa da aldeia, outra comparticipada pelo grupo dos maneis, ou ainda outra de alguma empresa amiga da povoação. No final, obtém-se três ou quatro fogaças que são oferecidas à Comissão de Festas para serem leiloadas e contribuírem para a angariação de fundos. Uma fogaça tradicional pode ser composta por um leitão, bacalhau ou galinha, broa, mel, ananás, bolachas, vinho do Porto, whisky, aguardente, carne assada e queijo da serra curado. O conteúdo de cada fogaça é suficiente para alimentar uma família inteira e seus amigos. (…)
Samuel Mateus (de Memórias do Antigamente. Monografia de Cortes, 2009) (foto da colecção do autor)