Na sua deslocação no fundo lodoso do mar, ou de uma vasa, à procura de alimentos, os trilobites (artrópodes invertebrados) deixavam pistas características, as denominadas bilobites ou cruzianas. Retiram o nome da sua forma bilobada, dois cordões dispostos lado a lado em baixo relevo, com ramificações.
Deve-se a Nery Delgado, um dos pioneiros da geologia portuguesa, o estudo exaustivo da fauna dos bilobites em Portugal, nomeadamente os da zona do Penedo de Góis, incluídos no afloramento silúrico do Buçaco (há cerca de 450 milhões de anos, um período caracterizado por um nível elevado dos oceanos), que se estende desde os Penedos de Góis até ao Luso. Muitas placas do Penedo foram por si recolhidas e depositadas no Museu Geológico (considerado como o Museu dos Museus), no antigo Convento de nossa Senhora de Jesus, da Ordem Terceira de S. Francisco, em Lisboa, onde se encontram guardadas. Como curiosidade, uma placa de grandes dimensões, com indicação da sua origem, faz as honras de entrada do museu. A variedade predominante na nossa zona era a “Cruziana Beirensis”. A foto que acima reproduzimos, é de uma placa de quartzito do Penedo, com uma das faces inteiramente coberta por maior parte desta espécie. Conforme descrição feita por Nery Delgado, trata-se de um «exemplo notável do cruzamento de numerosos bilobites, sobrepondo-se uns aos outros, e algumas vezes parecendo penetrar-se e ao mesmo tempo anastomosar-se, sem que nunca se manifeste a menor perturbação do seu encontro, e sem que o relevo e ornamentação se modifiquem. Examinando esta placa atentamente revelam-se repetidos exemplos de encurvamento de um bilobite passando primeiro por cima e depois por baixo de outros bilobites, indo por fim esconder-se mais adiante na quartzite; de bilobites que emergem da rocha adquirindo subitamente notável relevo, e depois penetram nela desaparecendo a maior ou menos distância; de bilobites que se cruzam e entrelaçam no mesmo plano, sem que a nitidez e aparente regularidade das rugas sofra a menor alteração ou desvio; enfim da laceração de um bilobite representado só por um dos lóbulos soldado transversalmente sobre outro bilobite que parece atravessá-lo, ou mesmo apresentando-se só um pequeno fragmento de um lóbulo aplicado sobre um bilobite de espécie diferente, como se vê a meio comprimento da placa (…) Esta grande placa parece bem demonstrar que só uma vegetação rasteira, muito vigorosa, poderia dar esta multiplicidade de impressões, caindo os bilobites no próprio lugar onde viveram ou sendo arrastados de curta distância e sobrepondo-se uns aos a outros, antes da sua fossilização.»