O património cultural, o turismo, o homem, três temas abordados na última Jornada sobre as Potencialidades do Concelho de Góis. Três temas interligado que, no seu conjunto, constituem uma alternativa às vias do desenvolvimento regional, formando o contraponto da sociedade tipo industrial que durante muito tempo foi o estandarte do modelo aconselhado para se fazer avançar uma sociedade. Num meio rural como o nosso, em estado precário de desenvolvimento, com elevada taxa de emigração, em que o desemprego não é uma preocupação predominante, há que saber tirar partido de recursos, que não apenas as riquezas do sub-solo, do solo ou das indústrias transformadoras.
Há o consenso que o turismo é um factor de grande importância para o desenvolvimento. Mas infelizmente muito pouco ou nada se tem lutado por ele, insistindo-se na desculpa fácil de que primeiro se torna necessária a existência de habitações e restaurantes acolhedores, para que os forasteiros se sintam atraídos. A nosso ver, está-se perante uma posição passiva, cómoda, inserida num círculo vicioso, de que não se fazem investimentos porque não há turistas e não há turistas porque não há condições mínimas de apoio.
O turismo está intimamente ligado ao património cultural. A história dos nossos antepassados, os valores artísticos, a cultura nas suas mais diversas formas, são bens sempre procurados por todos aqueles que se querem esquecer ou afastar dos seus problemas quotidianos. E felizes as terras que possuem um património na dimensão que tem a nossa! Um património degradado, por vezes abandonado, é certo, mas ainda em condições de ser dignificado e conservado. Há que proceder sem mais perdas de tempo a um levantamento exaustivo de todo o património monumental, artístico e histórico do concelho, depois restaurá-lo, dignificá-lo, tornando-o acessível e atraente. E em seguida fazer a sua divulgação, quer junto das nossas gentes, sobretudo os mais jovens a quem praticamente tem sido negado o seu conhecimento, quer para fora das fronteiras, para que a nossa terra fique apetecida. E com tantos incentivos e ajudas agora existentes a todos os níveis, nos campos financeiro, técnico e humano, até se torna imperdoável eles não estarem a ser aproveitados! Não tenhamos dúvidas, com o nosso rico património devidamente divulgado, os turistas começarão a aparecer, mesmo sem aquelas boas estradas que desejaríamos. E, depois, talvez os capitais privados sejam atraídos, para complementar as estruturas básicas.
E há também que se fazer a valorização do Homem. A nossa terra, à procura de um lugar numa nova organização que se adivinha para breve, deve saber referenciar-se no património cultural dos nossos avós e no respeito pela nossa história. Mas o projecto de mudança que se deseja deverá centralizar-se no Homem. É no espírito dos homens, no seu potencial criativo, nos seus “sonhos” geradores de energia, que se encontra a verdadeira riqueza. Será uma aposta na educação, na formação, na circulação da informação. Uma aposta na solidariedade humana e numa nova atitude cultural; numa atitude de que a felicidade e o bem-estar não terão que estar necessariamente associados a um aumento de produção e a um ganho de riqueza, no sentido tradicional em que é considerado este tema. É aqui também que deverá que assentar uma das nossas maiores apostas de desenvolvimento.
A Jornada terminou com a visita ao nosso concelho do “GAAC - Grupo de Arqueologia e Arte do Centro”. Meia centena de pessoas do centro do País, das mais variadas profissões, mas todas ligadas à cultura e à arte, vieram contactar directamente com as nossas potencialidades. Observaram pormenores da nossa história nos azulejos hispano-árabes, nas pinturas de antigos quadros e painéis e nas pedras esculpidas de monumentos nacionais; mergulhando no nosso passado, bem anterior à doação das terras a Anaia Vestrares, feita pelo Infante D. Henrique, ainda ele não era coroado Rei de Portugal. No cimo da serra, onde os homens teimam manter as suas tradições, a sua cultura, saboreiam as comidas típicas locais e assistem a danças e cantares genuínos da nossa terra. E, de lá do alto, observam a pequena central hidro-eléctrica, um marco do nosso passado recente, essa central geradora de energia que proporcionou aos goienses de então o orgulho de verem Góis com iluminação eléctrica antes de Coimbra e da maior parte das grandes cidades e vilas do País. Mais além, no extremo do concelho, misturam-se na vida quotidiana das gentes e contemplam as belas paisagens, a perder de vista, dos maravilhosos montes e vales. Através de uma corporativa e de uma associação sócio-cultural, tomam também contacto com o pulsar de um povo, que se quer libertar do isolamento que lhe é imposto e acompanhar os mais evoluídos. E já ao cair da noite, no extremo oposto, extasiados e silencioso, sentam-se na garganta do Cabril, perante uma das maiores maravilhas do concelho – o Cêrro da Candosa. Meia centena de pessoas que irão divulgar no seu meio um pouco da nossa cultura e das belezas da nossa terra.O fechar com ouro de uma jornada em que se quis transmitir as potencialidades de uma via alternativa para o desenvolvimento do concelho.