Foi em 1901. Procedia-se na Assembleia Municipal de Pombeiro
à respectiva eleição municipal do concelho de Arganil.
De um lado franquista, e do outro progressistas e regeneradores coligados.
À Assembleia, funcionando em plena paz, presidia o saudoso
padre Francisco Vasconcelos, assistindo no primeiro dia de eleição, o
administrador do concelho Francisco Inácio Dias Nogueira. No segundo dia, a
autoridade não era a mesma e pela povoação via-se tropa e polícia com
fartura...
A certa altura dos trabalhos eleitorais, entra na assembleia
um homem ainda novo, desconhecido, a cambalear... Ninguém lhe dispensou a menor
atenção, visto que em dia de eleições era corrente os cidadões andarem aos bordos pelas igrejas como
barcos desarvorados em dia de temporal...
Para ali esteve o homem a bocejar, com os olhos
semi-cerrados, mãos nos bolsos, despreocupadamente, como quem aguardava o
resultado do escrutínio...
De repente, sem que ninguém lho impeça, sem que ninguém lho
possa impedir, tal foi a surpresa, ela deita vigorosamente as mãos à urna e
safa-se com ela para fora, sem nunca mais ser visto!
Perante uma tal façanha, toda a gente ali emudeceu de
espanto, e quando consgue tomar tento para gritar e correr atraz do homem – ó pernas para que vos quero!... onde
iria ele...
(...) Minutos passados, toda a gente retrocedia atá à igreja
(...) e o padre Francisco prestes montou a cavalo, seguindo velozmente para
Arganil, apeando-se à igreja matriz, onde funcionava a assembleia eleitoral da
vila, em que seu pai se encontrava e para quem se dirige exclamando «Oh pai,
roubaram a urna!...»
Estava-se em plena dissidência franquista. Por toda a parte
os partidários de João Franco se empenhavam por ganhar as eleições. Faziam-se
acordos de toda a ordem e alguns bem disparatados.
Em Góis, por exemplo, o acordo era franquistas e
progressistas contra os regeneradores, que em Arganil estavam acordados com os
progressistas contra os franquistas! Até aconteceu que, na véspera da eleição
municipal, o sr. Oliveira Matos, chefe progressista se apresentou em Góis a
trabalhar pelos franquistas! Do que resultou o sr. Francisco Inácio abandonar,
em Arganil, os trabalhos eleitorais, sempre importantes da última hora, para se
dedicar exclusivamente à sua eleição em Góis.
(...) Noite velha, aparece em minha casa o mais alto
influente da política progressista de Arganil a manifestar-me o desejo qu se
anulasse a votação da assembleia de Pombeiro, porque, repetindo-se ali a
eleição, teríamos absolutamente assegurado o triunfo da nossa lista.
Fiz-lhe ver a impossibilidade dessa anulação por falta de
motivo legal (...)
Mas creio bem que que o roubo de uma urna foi previamente
planeado... (...)