Anselmo dos Santos Ferreira conta-nos a lenda da sua terra, que em criança ouvira dos seus antepassados. «A poética lenda da fundação da vila de Alvares é mais uma prova de amor dos seus filhos, a bem do seu nome e das suas tradições honrosas. E eu na qualidade de de bom alvarense, não cesso de repetir, com devoção bairrista: Através da bruma insondável dos tempos remotos, uma linda princesa nómada, da Lusitânea antiga, atraída pela frescura das águas das fontes e pela tranquilidade da paisagem ribeirinha, onde actualmente se encontra situada a pitoresca vila de Alvares, habitou este retiro pastoril da natureza, para contar, na várzea florida, o melhor da sua mais lusa inspiração. Ela chamava-se Varge e o fulgor da sua fama atingia coetanos e vindouros. (...) Um belo dia, outra princesa de rara formosura (Al era seu nome), filha mais nova de uma afamado rei da lendária Arábia Pétrea, perseguida pelos terríveis inimigos que haviam destronado seu pai, veio pedir guarida a Varge, que a recebeu admiravelmente. Daqui em diante, começaram a andar sempre juntas; e assim passaram para a posteridade as duas princesas, Al e Varge, ao lado uma da outra, cantando: Al Varge?! Sim, Al Varge, génese dum nome querido, estremecido, génese duma lusitana terra, milenária da serra... (…) Finalmente, com a expulsão dos mouros do nosso território, Al e Varge ficaram unidas num encantamento eterno, chamado Alvares, em cujo local se ergue hoje, orgulhosa da sua ascendência principesca, a mui linda e serrana vila de Alvares.»
(Memória acerca da vila de Alvares, em Diário de Coimbra de 16.1.1954)