A religião tem um papel fundamental na sociedade portuguesa. Mas ela toma contornos específicos nos meios rurais, como é o do concelho de Góis. Para além da institucional (católica), funcionando e sendo imposta por uma hierarquia, há uma religião popular que, pouco ou nada tendo a ver com a igreja, marca profundamente a vida das comunidades locais. Invoca-se a protecção divina, pede-se uma acção milagreira ou é pretexto para uma actividade social. Apresenta-se em diversas formas: capelas e o culto dos santos, alminhas e festas pagãs-religiosas, para além de inúmeros ritos agrários.
Nas cerca de sete dezenas e meia de capelas, actualmente existentes no concelho de Góis, são invocados inúmeros santos, bem como Jesus Cristo e Nossa Senhora. Numa visão superficial, notamos as seguintes formas: Nos santos: S. Sebastião (6 vezes), S. António e S. José (4 cada), S. Pedro (3), S. João Baptista, S. Miguel, S. Amaro, S. Simão, S. Domingos e Santa Luzia (2 cada). Os restantes – S. Cristóvão, S. Caetano, S. Tiago, S. Lourenço, S. Paulo, S. Gens, S. Salvador do Mundo e S. Martinho – não se repetem. Jesus Cristo é invocado como Senhor dos Milagres, Senhor dos Aflitos e Senhor da Amargura, uma vez cada. Por sua vez, a invocação de Maria, mãe de Jesus, é feita na forma de Senhora da Conceição (4 vezes), Senhora de Fátima (3), Senhora do Livramento, Senhora da Boa Morte, Senhora dos Remédios, Senhora dos Milagres, Senhora do Rosário e Senhora da Saúde (2 cada). As restantes – Senhora da Assunção, Senhora da Boa Sorte, Senhora da Nazaré, Senhora das Preces, Senhora da Piedade, Senhora da Rocha e Senhora das Neves – parece não se repetirem. Muitas das invocações estão ligadas a casos específicos sucedidos nas próprias aldeias, outras por veneração tradicional. .Capelas e Ermidas .Alminhas .O culto a S. José (As Igrejas encontram-se na secção "Património Construído")
**
Festas religiosas no Colmeal As festas religiosas nas nossas aldeias têm tradições de séculos, inclusive dias certos, caso do segundo domingo de Agosto, no Colmeal. Pelos elementos manuscritos disponíveis sabemos que, pelo menos desde 1851 até 1910, as festividades anuais eram em louvor do Santíssimo. Na procissão, conforme as disponibilidades financeiras, em alguns anos era incorporada filarmónica, lançados os já tradicionais foguetes, morteiros, por vezes, fogo de artifício. Nos festejos religiosos, e como era hábito no século anterior, participavam vários padres e pregadores, sendo os encargos gerais na ordem dos 15 réis. E a “música” (filarmónica) quando actuava cobrava 16 réis, parecendo-nos a verba muito vultosa. Dentro da sua competência, as festividades eram organizadas e pagas pela Junta da Paróquia, cuja despesa obrigatoriamente constava do orçamento da autarquia paroquial, a aprovar pelo Governador Civil ou Câmara Municipal do concelho, sendo as contas apresentadas em Tribunal, absorvendo todas as entidades emolumentos. Apesar de não ser fácil determinar o ano exacto, somente depois da implantação da I República, separação da Igreja do Estado, os festejos passaram a ser efectuados em louvor do Senhor de Amargura e as Seladas o centro de fé dos colmealenses. (…) Fernando Costa (O Varzeense, 1992)