Um conto antigo narra, que uma vez, no passado, uma tropa de Mouros tinha vindo para atacar a aldeia de Folgosa. Estava a chover, mas a chuva parou e o sol começou a brilhar entre as nuvens e os pretos telhados de xisto começaram a cintilar como espelhos. Os Mouros tiveram medo de ficar cegos pela forte luz e fugiram. Conta-se que a Folgosa era a primeira aldeia no Concelho de Góis. A povoação é alistada no censo de 1527 do Concelho de Góis, no qual é registado que nesta altura ai havia nove fogos permanentes, indicando assim que a Folgosa era uma das cinco maiores aldeias neste tempo na região de Góis, igual ao Cadafaz. Uma razão pelo seu tamanho é a sua localização numa velha rota de comércio. Uma antiga história conta que uma vez veio um homem pelo carreiro de Góis, caminhando a subida muito acentuada de Foz Romão em direcção à Folgosa. Num local chamado “Corte Cabeça” havia uma pequena acentuada e ele chegou ali fatigado e sem fôlego; respirando fundo disse:” Fol goza!”. E isto, diz-se, deu origem ao nome da aldeia. À volta da aldeia estendem-se terraços cultivados e, para além destes, há oliveiras, plantadas quase até a borda do rio lá em baixo. A produção de azeitonas na Folgosa era tão grande que a aldeia tinha dois lagares: um no meio da povoação e outro mais em baixo, junto ao rio, por cima da “Ponte do Romão”. O lagar na aldeia é provavelmente um dos mais velhos lagares sobreviventes na região, ou mesmo para além. A energia para por o moinho de azeitonas a funcionar, era fornecida por dois bois que andavam à volta, e por cima do lagar havia um pequeno quarto onde os trabalhadores podiam descansar. Havia também muitos moinhos relacionados com a aldeia (veja a listagem de moinhos mais em baixo). Vários destes moinhos tinham um forno. Uma residente mais velha da aldeia recorda que as mulheres costumavam moer o milho e a seguir cozer a broa, retornando assim para a aldeia com a broa já feita. Como só havia carreiros estreitos, o milho era carregado em cestos por cima da cabeça. Algumas vezes já era de noite quando regressavam à aldeia, apenas com uma luz fraca de uma lanterna ou um candeeiro de azeite a iluminar o carreiro, mas muitas vezes as estrelas e a lua ajudavam nesta tarefa e as mulheres também já conheciam o caminho de olhos fechados. À volta da Folgosa encontram-se muitas colmeias, ainda feitas de maneira tradicional com a cortiça local. A cortiça é cortada dos sobreiros locais e moldada em forma de uma caixa onde as abelhas constroem os favos de mel. A cortiça fornece isolamento tanto contra o frio do Inverno como contra o calor do Verão. A única modificação moderna é que muitas colmeias já não utilizam a antiga pedra, posta encima contra a chuva. Esta foi substituída por peças de electrodomésticos modernos. A capela de Folgosa, dedicada a São Simão, tem umas das pinturas medievais mais bonitas da região de Góis. Na abóbada da pequena Igreja encontram-se quatro pinturas, retratando os quatro escritores do Evangelho: Mateus, Marcos, Lucas e João. O arco de pedra é feito de granito que não surge na região de Góis e tinha ser transportado por carros de bois. Também este demonstra vestígios de pintura medieval. O candelabro original da capela, diz-se encontrar-se agora na Igreja Matriz de Góis. Alguns anos atrás houve um fogo na Folgosa; a capela não foi tocada pelas chamas e as pessoas dizem que foi protegida pela Santa Senhora das Necessidades, à qual se atribuem poderes fortes e milagrosos. Uma história conta que uma vez, outrora, durante uma guerra, a aldeia foi invadida e os habitantes da aldeia foram para a capela para chorar e rezar à Sr.ª das Necessidades e pedir ajuda. Após uma batalha dura, os aldeões ganharam contra os invasores que fugiram e depois da curva chamada “Volta das Mulas” nunca mais foram vistos. Os residentes da Folgosa foram todos juntos à Igreja para agradecer à Santa e viram esta lavada em lágrimas, as lágrimas que eles tinham chorado antes da batalha. (por referência nas capelas) Antigamente, quando alguém da aldeia morria, o defunto era carregado nos ombros por quatro homens com a ajuda de duas estacas em madeira e cordas e transportado assim pelo carreiro a longo do rio para o cemitério de Góis. O carreiro leva de Góis até as Mestras, sempre à borda do rio. Os habitantes das Mestras costumavam vir para o largo em frente da capela de Folgosa para encontrar-se com os aldeões e depois iam todos juntos para o mercado em Góis. As crianças de Folgosa visitavam a escola da Cerdeira, que ficava a duas horas de caminho em cada sentido. (…) (texto e foto de Góispro Mediação Imobiliária, Lª )
Os moinhos da Folgosa O primeiro moinho chamava-se “Moinho das duas Pedras” e tinha, como nome já diz, duas mós para moer o milho. Um outro moinho chamava-se “Moinho do Corvo”. Por baixo da aldeia encontra-se um lugar com o nome “Cabeço do Corvo”. Há cerca 150 anos atrás, este moinho foi deslocado por alguns metros para dar acesso à Quinta do Corvo. Um outro era o moinho privado “Moinho do António do Passo”. Um proprietário de terras do outro lado do rio Ceira (Cabreira) pediu ao Sr. António do Passo água para a rega das suas terras e este deu-lhe este direito em troca de algum dinheiro. Um outro moinho era o “Moinho do Redondinho”. Este era o moinho que se encontrava mais afastado da aldeia, situado na direcção de Cabreira, mas deste lado do rio da Folgosa e situava-se no limite da freguesia de Cadafaz. Uma vez caiu uma parte do açude e não havia dinheiro para reconstruir este dano. Mas um homem do Tarrastal comprou aí uma quinta, fez com a permissão dos aldeãos uma levada até ao moinho, renovou o açude e assim o moinho começou a funcionar de novo. A Ribeira da Folgosa junta-se ao rio Ceira por baixo da aldeia. Nesta ribeira estava o “Moinho Foz Romão” de propriedade privada, onde havia uma colecção de casas e um forno para cozer a broa. Um outro moinho, também de propriedade privada, chamava-se “Moinho da Barreira das Cerejeiras”; também particular era o “Moinho Mosqueiro” e o “Moinho da Eira Velha”, onde havia algumas casas, casas de arrecadação e um forno. A família costumava viver algum tempo ali e algum na aldeia. Em “Foz Penedos” havia dois moinhos praticamente juntos. Há cerca de 40 anos foi construído um moinho novo, porque já nenhum dos acima mencionados trabalhava. O lugar deste moinho chamava-se “Golinha” e os acessos eram melhores porque havia um carreiro para carros de boi, e assim o milho podia ser transportado para ali. Embora o moinho fosse particular, o proprietário deixava os habitantes da aldeia moer o milho aí e ajudava-os com o transporte. ("Góispro Mediação Imobiliária, Lª ")
Visitando há dias o lar de Idosos de Góis, estive a falar com a Senhora D. Lucinda Henriques, viúva, que ali está com uma sua irmã. Ao ler-lhe o texto acima descrito ela chorou de comoção ao ouvir falar da sua aldeia e contava: «Rica Folgosa da minha mocidade que trago no coração! Esta terra já foi muito povoada e trabalhada. Quase todos eram camponeses, mas havia de tudo, carpinteiros, sapateiros, pedreiros que até faziam as suas próprias casas. Tenho muita saudade dos campos verdejantes e floridos, dos animais, dos bailaricos aos Domingos com lindos toques e cantares a alegrarem a mocidade. Essa senhora que vemos aqui é a Maria dos Anjos, também do meu tempo. A Folgosa chegou a ter 25 juntas de bois, no tempo em que os bicos de arado eram ainda de madeira. Hoje na aldeia. permanentemente, só vivem lá 10 pessoas, quatro das quais vivem sós, mais Deus. Apenas uma criança frequenta a Escola de Bordeiro que dista uns 15 km da aldeia. No Verão e pela Páscoa a terra anima-se mais, porque vêm de férias aqueles que ainda têm as casas arranjadas e ali tiveram as suas raízes e amam o seu torrão Natal. Excepto isso, a Folgosa é uma aldeia deserta, mas onde se respira o ar puro da serra e se ouve o doce cantar dos passarinhos que dão alma aos poucos que ainda ali vivem., sem o convívio que seria necessário. Uma a uma vão se perdendo as jóias da coroa do nosso país e é pena! Porque, como diz a canção: na minha aldeia não há ódio, mas estimas. Tem-se amor pela vida alheia, todos são primos e primas (...) » C. B. S ("canticosdabeira")