Em 1555, foi autorizado pela Cúria Romana, sob a autoridade do Papa Paulo IV, a criação de um hospital em Góis, com uma capela de invocação a Espírito Santo. A sua conclusão ter-se-á verificado cerca de quatro anos depois. Era então senhor de Góis, D. Diogo da Silveira, 2º Conde de Sortelha, a quem se deve a iniciativa desta instituição e a dirigiu durante cerca de três décadas. Foi destinada para albergar peregrinos e necessitados de ajuda, prestando-lhes assistência médica e espiritual, tendo-se especializado posteriormente no tratamento da sífilis. Segundo consta fontes escritas da época, a água que o abastecia, da fonte do Pombal, tinha boas propriedades para esse fim. Fazia parte do hospital, para além da capela, o quintal que anteriormente fora o jardim dos Paços Velhos, e no qual se situava a Torre com a relógio da vila. Até ao seu encerramento definitivo em 1834, em consequência das leis liberais que extinguiram as doações da Corte, o hospital viria a alcançar uma grande projecção nacional. O Município de Góis adquiriu em 2003 estas instalações, com a ideia de vir ali instalar o museu municipal. Para isso procedeu a uma intervenção arqueológica, sob orientação da arqueóloga Drª Ana Marques de Sá. De um artigo seu, publicado no Jornal de Arganil, de 6 de Abril de 2006, respigamos: «Os trabalhos arqueológicos têm como objectivos principais: perceber como se desenvolveria o edifício, verificar a dimensão real do antigo hospital e da sua capela, perceber a funcionalidade do espaço correspondente ao pátio ou jardim, identificar diferentes fases de ocupação dos edifícios e do espaço envolvente. Dos trabalhos em curso, refira-se, em primeiro lugar, a intervenção de arqueologia vertical, através da picagem de paredes no interior dos edifícios que, de um modo geral, veio esclarecer algumas questões relacionadas com a evolução da organização espacial do conjunto edificado. Assim, já se edificaram diferentes técnicas de construção utilizadas na edificação e nas diversas reestruturações patentes nos edifícios em estudo: alvenaria de pedra (século XVI), alvenaria de tijolo burro (séculos XIX/XX), alvenaria de tijolo furado (século XX), tabique de rodízio (século XVI?), tabique de fasquio (séculos XIX/XX? e adobe (séculos XIX/XX?). Por outro lado, esta fase de intervenção arqueológica deu-nos uma leitura possível de, pelo menos, duas fases de ocupação do edificado, a primeira entre os séculos XVI-XIX (aproximadamente) e a segunda entre os séculos XIX e XX (aproximadamente), confirmando, “grosso modo”, as fontes escritas e testemunhos orais. No exterior, na área correspondeste ao jardim da casa, estão a escavar-se as sondagens arqueológicas no terreno, onde foram postas a descoberto uma série de estruturas antigas, nomeadamente os vestígios do que pensamos tratar-se da antiga torre do relógio, poços antigos em alvenaria de pedra, vestígios de um canal para transporte de água e um pavimento de pedra. Para além das estruturas encontradas, o espólio arqueológico recolhido tem sido imenso e de grande qualidade: uma peça de liga de cobre que poderá corresponder a um vaso sagrado ou pixide, fragmento de uma peça de barro também relacionada com o culto religioso, grandes quantidades de cerâmicas (em fragmentos ou peças inteiras) de várias épocas, metais, vidros e moedas. (…)»