A Casa da Costeira foi uma das mais prestigiosas do concelho de Góis, tanto pelo valor e posição social de muitos dos seus elementos, como pela união que teve com muitas famílias importantes da região. Aqui deixamos alguns dos seus traços.
A Casa da Cancela Comecemos pela Casa da Cancela, ao Mártir, na Várzea de S. Sebastião, constituída por um conjunto de casas e quintas. Em meados do século XVII, eram seus proprietários e ali viviam, Manuel Neto Liz e sua mulher Ana Negroa da Costa (filha de António Negrão, natural da Várzea de S. Sebastião e de Maria Manuela da Costa*, de Sacões de Baixo). Manuel Neto falecia em 6 de Maio de 1663 e sua mulher em 3.5.1681, sendo sepultada na Igreja de S. Pedro. Sua filha Maria Neto Monteiro casou com João Barata Rebelo, que tinha tido residência em Pampilhosa e recebera em 1626, de seus tios, um morgadio em Avô. Ela morria em 27 de Maio de 1662, na Várzea de S. Sebastião, e ele em 29 de Maio de 1673, deixando duas filhas e um filho. Este, capitão Manuel Barata Neto de Liz, obteve autorização real, de D. Pedro V, por alvará de 13.2.1695, para transferir o morgadio de Avô, para a Casa da Cancela, na Várzea de S. Sebastião. Foi o primeiro morgadio da Casa da Cancela, a que se juntariam outros, como veremos. Capitão Manuel Barata Neto falecia a 16 de Janeiro de 1717, com 58 anos. Uma das suas irmãs era Mariana Rebelo Barata. Em 11 de Outubro de 1716, faz testamento de todos os seus móveis e de raiz, a favor do irmão e da cunhada, instituindo um vínculo de morgado, e um mês depois, a 10 de Novembro, para maior conservação do seu nome e reforço da geração, consolida esse morgado, vinculando-o perpetuamente a algumas cláusulas. Dez anos depois, em 16 de Janeiro de 1726, e tendo já falecido o irmão e a cunhada, faz novo testamento, legando o morgadio a seu sobrinho Luís António Barata Neto. Mariana morria quatro dias depois, em 20 de Janeiro de 1726 na Várzea, solteira, com 68 anos de idade. Desta forma, Luís António Barata Neto, ficaria à cabeça de dois morgadios: o que tinha sido instituído por Simões de Freitas, em 1626, em Avô, e agora o de Mariana Rebelo Barata, instituído cem anos depois. Passados vinte e dois anos, um terceiro morgadio vem juntar-se-lhes: em Casal de Ermio, Lousã, Marcos Alves Negrão e Inês Pereira de Sá, instituem, a 28 de Abril de 1748, um morgadio, o qual, por sucessão, viria cair a Luís António Barata Neto. E ele não ficaria com um quarto morgadio, o da Costeira, devido às más relações que tinha com o seu cunhado, como é referido mais abaixo. Casou com Ana Catarina de Carvalho, irmã do abade Bento Lopes de Carvalho, tendo sido seu filho, Luís António Lopes de Carvalho, o designado como o primeiro morgado da Casa da Costeira.
O fundador do morgadio Abade Dr. Bento Lopes de Carvalho, o padre Bento, como era tratado, foi o fundador da Casa da Costeira e seu morgadio. Nasceu em Góis, onde seus pais viviam e foi baptizado em 29 de Março de 1683. Era pessoa de origem humilde. Filho de Manuel Lopes Marques, sapateiro em Góis, e da sua segunda mulher Maria Luísa de Carvalho, que faleceu na Várzea de Góis e ali sepultada em 16 de Setembro de 1727. Neto paterno de Manuel Lopes Marques, carpinteiro, de Vilarinho, e de Elena Marques, do Cadafaz, e neto materno de António Carvalho e Luísa Francisca, da Luzenda. Tinha quatro irmãs e um irmão, José Lopes, ferrador em Góis. Com 18 anos, matricula-se em Instituta, na Universidade de Coimbra, onde seria aprovado para Ordens do Evangelho e receberia Ordens de Missa, e, em Julho de 1708, terminava a formatura. Em 24 de Outubro de 1709, com 26 anos de idade, é entronado vigário da igreja de D. Pedro da Várzea, ficando a paroquiar a respectiva freguesia durante 22 anos. Em seguida, foi promovido a abade para S. Tomé de Cubelos, do bispado do Porto. Mas sempre considerou a Várzea de Góis como a sua terra, onde continuava a desenvolver os seus interesses e para onde trouxera a sua mãe e as irmãs. Em 22 de Julho de 1721 morre a sua irmã Quitéria Maria de Carvalho. E, em 15 de Janeiro de 1722, uma outra sua irmã, Ana Catarina Lopes de Carvalho, casa com Luís António Barata Neto, morgado da Casa da Cancela, que morreu em 12.2.1776. Em 25 de Abril de 1725, vende a sua casa de Góis, na rua da Ponte. Em 16 de Setembro de 1727, sua mãe, Maria Luísa de Carvalho, morre na Várzea Grande, onde fica sepultada. Em 1731, com 48 anos, é promovido a abade para S. Tomé de Cubelos. Em Maio de 1747, faz escritura de doação e obrigação dos seus bens para património da futura capela da Costeira, que seria benta no ano seguinte. Em 26 de Abril de 1759, agora como abade em S. Salvador de Ruivães, redige o seu testamento, estando gravemente doente. Morre em 29 de Maio de 1759, com 76 anos de idade. Foi ele que mandou fazer a capela a Costeira, na sua “Quinta da Segunda Várzea de Góis”, com a invocação de Nosso Senhor da Agonia. Por escritura de 29 de Maio de 1747, o padre Bento fez doação e obrigação de bens para a sua construção, que seria benzida em 18 de Outubro de 1748 pelo pároco da Várzea Joaquim Rodrigues da Fonseca.
Alguns pontos do seu longo testamento: -Pede que seja sepultado na sua capela, em S. Pedro da Várzea.-Deixa à Igreja um terreno “por baixo de São Silvestre que demarca com a estrada que vai para o Cabril e fica para a parte de Chão dos Santos e foi do Capitão Manuel Barata Neto”. -Estipula que todos os bens de raiz que tinha na freguesia da Várzea fiquem vinculados em morgadio e que se conservem juntos, numa só pessoa.-Nomeia para primeiro administrador deste morgado seu sobrinho Luís António Lopes de Carvalho. -Estabelece que todos os seus sucessores nos bens são obrigados a usar os apelidos Lopes de Carvalho. -Deixa bem claro que seu cunhado Luís António Barata Neto, pai do seu herdeiro, jamais, em circunstância alguma, possa ser administrador dos bens. Foram seus testamenteiros Padre Ambrósio Dias Negrão, da freguesia da Várzea, e Dr. António Lopes Ferreira, da vila de Góis. Com este testamento, aprovado em 2 de Maio de 1759 e publicado em 31 daquele mês, institui-se assim o morgadio da Costeira, estando a fazer agora 250 anos. A parte antiga das casas foi totalmente reconstruída por Dr. Augusto Cortez, em 1880, data que existia nas ferragens da porta da entrada, tendo nessa altura também sido modificada a sacristia da capela. A chamada a casa nova, onde esteve instalada a Estação dos Correios, foi mandada fazer por António Maria Barata Lopes de Carvalho, tendo na frontaria a data de 1861. Ao longo do tempo, a Casa da Costeira foi-se depois desmembrando, por partilhas e por vendas.
Algumas personalidades da Casa da Costeira 1 Luís António Barata Lopes de Carvalho, o primeiro morgado, nasceu a 28.1.1727 e faleceu na Várzea a 20.5.1796. Em 1746, foi ouvidor dos senhores de Goes, marqueses de Abrantes. Cabeça dos morgadios de Avô, de Casal de Ermio, da Casa da Cancela e da Casa da Costeira. Foi casado, em segundas núpcias, com Ângela Maria de Sant’Anna, da Quinta do Reguengo do Prilhão, e tiveram: 1.1 José Joaquim Barata Lopes de Carvalho, Tenente-Coronel de Milícias, que nasceu na Casa da Costeira e faleceu a 25.8.1856. Casou em 1818 com sua prima Ana Vitória de Figueiredo e Queiroz, natural da Quinta do Reguengo, em Vilarinho da Lousã, e falecida a 17.2.1788**. Tiveram: 1.1.1 António Maria Barata Lopes de Carvalho. Proprietário da Quinta da Costeira, cujo edifício exterior mandou construir, como acima foi dito. Em Julho de 1877, andando a concentrar o tijolo o pavimento da capela da quinta, acharam grande porção de moedas de 8#000 reis, debaixo de uma pedra (segundo informação em “Portugal Antigo e Moderno”, de Pinho Leal). Nasceu na Quinta da Costeira, a 29 de Novembro de 1821. Deixou um filho natural que morreu solteiro, Egídio Maria de Carvalho. Foi juiz ordinário dos órfãos em Góis em 1860. Durante muitos anos, exerceu o cargo de tesoureiro da Junta da Paróquia da Várzea e ajudou a construir a Igreja. Foi Presidente da Câmara Municipal de Góis em 1878 e seu vereador em 1858-59. Faleceu na Várzea, solteiro, a 14 de Outubro de 1878. 1.1.2 Maria do Espírito Santo Barata de Figueiredo e Queiroz, nascida a 17.5.1834 e falecida a 8.5.1809 Casou em 11.2.1863 com Dr. Augusto César Cortez. (segue)
Augusto César Cortez nasceu em Cortes, Alvares, a 11 de Novembro de 1832, filho de João Simões Cortez (natural também das Cortes e Presidente da Câmara Municipal de Góis) e de Joaquina de Jesus Cortez. Foi licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra em 1855, administrador dos concelhos de Góis e de Ansião, vereador em Góis nas décadas 80 e 90 e Presidente da Câmara Municipal de Góis em 1866-1867. Faleceu na Várzea de Góis a 6 de Junho de 1903. Tiveram três filhos: 1.1.2.1 Artur Augusto Cortez; 1.1.2.2 Diogo Barata Cortez; (ver em In Memoriam) 1.1.2.3 Carlos Maria Cortez, tendo sido, os três irmãos, Presidentes de Câmara Municipal de Góis.
Os quadros seguintes permitem-nos ver afinidades entre famílias ligadas à Câmara Municipal de Góis.