Orago: S. Sebastião Área: 35,00 Km2 Altitude máxima: 1029 m Limites: Entre N e E: Do marco geodésico de Gatuxa, segue o viso na direcção NNE até ao local designado por Alto do Carvalhinho. Seguindo, inflecte para SSE, seguindo o viso até à junção da Ribeira de Ádela e o Vale do Cão, para prosseguir pela Ribeira citada. Esta fronteira constitui também limite concelhio. Entre E e S: Ribeira de Ádela até à sua foz no Rio Ceira, seguindo este para montante até à foz da Ribeira de Carrimá até próximo do local designado por Loureiro. Daqui segue o viso na direcção SE e depois E até encontrar um caminho vicinal, inflectindo para SSW até ao marco geodésico de Decabelos. Deste segue o viso da serra até ao marco geodésico de Caveiras, passando por Colada de Belides, Relva das Aiguinhas, Selada Ereira. Estes limites são também concelhios. Entre S e W: Do marco Caveiras segue até à Selada do Braçal, passando pelo local designado por Alagoas (onstitue igualmente limite concelhio). Segue por caminho vicinal para N, inflectindo depois para NE pelo viso até encontrar a Ribeira de Carvalhal do Sapo, prosseguindo até ao viso mais pronunciado da margem direita. Segue-se por este até à linha de cume, seguindo por esta na direcção NW. Entre W e N: Da linha de cume anterior, desce para o Rio Ceira, atravessando-o a S da povoação de Candosa, seguindo o viso da serra até junto do marco do Vieiro, na direcção NW. (Fonte: CCRC 1982)
*
«Tudo nos indica que a povoação se iniciou ao Canto, não
só por meras suposições, mas sim por fortes razões naturais que passamos a
explicar: o foco principal desta afirmação é a sua relativa planície e muito em
especial a posição cardeal em que se encontra, ficando voltado para nascente, recebendo
assim a luz solar durante todo o dia de que beneficiavam, como é lógico, as
habitações ali construídas que consequentemente usufruíam uma maior e mais
duradoira iluminação natural em relação a qualquer outro local.
Mas, e para além de todas estas suposições de origem natural, outras de ordem
toponímica nos levam a aceitar como tendo sido ao Canto a origem do nosso Colmeal. Como tal,
temos a própria palavra ‘canto’ que significa superfície, lugar afastado, sítio
esconso; esconso:
inclinado, oblíquo, pendido; superfície, que
traduz a parte superior dos corpos (isto em sentido figurado). Ora em contraste
com todos os terrenos que circundam o local, temos de concordar e é “uma superfície ligeiramente inclinada
ou pendida e superior em relação e nível ao restante”.
A povoação abastecia‐se de água de nascente da ravina da Fontinha (1) e a qual ia para o Canto através do
que restava da levada construída séculos antes pelos romanos.
Tomando em consideração que são parcialmente artificiais os valados contínuos
em forma de semi‐círculo (2),
desde a Cova, Estreitinho ao Curtinhal, onde existe veia de barro, temos de
visionar que o local teria sido um «plano», embora sem algum fundamento que
certifique integralmente as ideias. Estes valados iniciados por nossos avoengos,
para extracção de barro, chegaram ao presente como autênticas trincheiras,
motivado pela erosão e mutação constante da natureza, porque com tão reduzido
número de habitantes (3) era impossível a sua abertura ter sido
totalmente efectuada pelo braço do homem.
As regulares quantidades camadas de tijolos que surgiam quando de escavações
efectuadas outrora levam a crer (4) ter existido indústria de olaria e
cerâmica, a qual acabou por se perder, não chegando a nossos dias fragmentos
dessa laboração nem a sua transmissão de ascendentes para descendentes.»
(1)
Era uma ravina, visto o largo e terrenos de cultivo sobrepostos ao fontanário
serem aterros artificiais.
(2) Analisado da “Poesia”, o Bairro da Eira dá o aspecto de formar uma ilhota,
motivado pelo declive em direcção ao rio e pela “ferradura” que formam os
valados.
(3) Em 1527, existiam somente 24 habitantes.
(4) Esses tijolos que dizem apareciam outrora com frequência e em quantidades
regulares não provam ter existido indústria de cerâmica. A base número um seria
encontrar‐se um forno de épocas remotas. Essa abundância de tijolos teria sido
derivada de destruição de restos desses fornos?
(O Colmeal, Julho de 1970)
«Pela etimologia do
termo que deu nome à freguesia, pela toponímia, por uma série de vestígios
encontrados na região e, até, dando crédito moderado a inúmeras lendas que
circulam ainda nas bocas do povo, vários autores quiseram já situar o seu
aparecimento em determinada data. Como consequência, surgiram várias hipóteses,
mas apenas uma certeza, a povoação do território de Colmeal é muito antiga,
possivelmente anterior a D. Afonso Henriques e à fundação do reino de Portugal,
mas não é possível determinar com exactidão as suas origens. Pertenceu durante muitos
anos à comarca de Coimbra e em 1560 a
pequena povoação da margem direita do Ceira deve ter atingido um certo valor,
pois mereceu do então bispo de Coimbra, D. João Soares, a promoção a sede de
freguesia, por documento que concedia idêntica regalia à vizinha aldeia do Cadafaz.
Para isso, a pequena
capela que ao tempo existia, dedicada a São Sebastião (São Sebastião do
Colmeal), foi aumentada e transformada em igreja matriz. Os lugares que, nessa
fase inicial, passaram a fazer parte da nova freguesia foram, são, além do
Colmeal, Carvalhal, Soito, Aldeia Velha, Sobral e Ádela.
A cura era de apresentação do vigário de Góis e seus
beneficiários. Tinha destes, 4.000 réis, e dos seus paroquianos mais 4.000
réis, 40 alqueires de trigo e ainda o pé-de‐altar. Como os habitantes da nova
freguesia de Cadafaz
eram obrigados a irem três vezes no ano à Igreja
Matriz de Góis [pelas festas da Nossa Senhora da Assunção, do Espírito Santo e
do Corpo de Deus], sob pena de não pagarem um arrátel de cera para essa igreja
e por cada falta. Isto porque também a recém‐construída Igreja do Colmeal era
dependente da Matriz de Góis. Do mesmo modo
eram pertença dos prelados do bispado, pagando pela respectiva visitação,
"meia colheita das colheitas gerais, ao preço de 250 réis, à custa de
dízimos e rendas da matriz e anexas". E ainda, como em Cadafaz, também as
capelas da freguesia teriam de possuir obrigatoriamente "Caixa de Santos
Óleos, com suas Ambulas, Pia Baptismal, Campanários com sinos ou campas e todas
as demais insígnias…". (de Concelhos
de Portugal)
(O Colmeal, número especial, Julho de
1971)
Origem
Toponímica de Colmeal «Tem
sido até agora procedimento corrente explicar a designação de Colmeal, que se pensa ter
sido desde sempre atribuída à nossa terra, pela sua base etimológica mais
próxima, mais popular e mais simples: a colmeia. E,
imediatamente, a associação mais frequente aparece feita com o habitat da abelha.
Ora, se a origem etimológica de Colmeal na colmeia nos parece acertada – quase diríamos
indiscutível – a passagem ao habitat da abelha já pode parecer mais duvidosa; a
menos que se demonstre que a região tenha tido alguma vez condições
privilegiadas para a cultura da abelha (a apicultura, como técnica
e etimologicamente ficará bem designá-la); ou pelo menos essa cultura alguma
vez tenha exercido poderosa influência sobre o modo de vida da sua gente. Terá
sido assim?
É inegável que algumas colmeias existem no Colmeal; é natural que de há longos,
longos anos, elas lá tenham existido. Mas faltam‐nos os conhecimentos
suficientes para encontrar as razões de um eventual desenvolvimento intenso
dessa cultura, se ela alguma vez existiu com muita intensidade. E, por outro
lado, não existirão outros povoados nos arredores onde desde sempre as pessoas
terão também procurado oferecer casa às abelhas com a ideia de vir a aproveitar
o seu mel? Certamente que sim, podendo até suceder que nalguma delas tal
actividade fosse relativamente mais importante do que no Colmeal. Mas tudo
serão conjecturas enquanto algum técnico não demonstrar se algum, ou alguns dos
factoreslocalização,
tipo de solos com influência em tipo de plantas,
características particulares do clima, ou outros, terão
determinado especial predilecção da abelha pelo local. Isto, se na abelha estiver
a base da designação da nossa terra.
E estará realmente?
Volte‐se à explicação etimológica, isto é, à origem da palavra. Colmeal deriva
de colmeia, é certo; mas colmeia terá de derivar de abelha? Parece que não.
Abelha vem do latim apis (donde, o tal termo apicultura antes referido). De apis nasceu essa palavra; outra origem não
se lhe encontra. Mas a origem de colmeia é bem diferente; vem do castelhano colmena,
e este do latim realmente, mas do latimculmum que significa colmo, tecto de colmo
(1); e foi realmente este culmum que veio a originar colmeia.
Simplesmente, esquecemo‐nos com frequência que colmeia não significa apenas a
«casa‐fábrica‐celeiro» da abelha; pode significar pura e simplesmente
habitação, quem quer que seja que a utilize, mesmo o ser humano. É normal
dizer‐se, quando numa casa habita muita gente, que ela é uma colmeia, ainda que
isso possa ficar a dever‐se a uma associação de ideias com o característico
cortiço. Vamos
então repensar o problema, devagarinho, por fases.
Primeiramente, parece que deverá esquecer‐se um pouco a abelha para pensar na
colmeia como habitação com tecto de colmo, porque aqui está a sua origem. Nos
tempos em que a cultura de cereais (que não a do milho) tenha tido importância
e antes de poder utilizar o xisto na construção, terão existido na nossa terra
telhados de colmo? Se o centeio no passado aí teve importância, não poderia ele
ter sido utilizado para fazer os tais tectos? Pessoalmente diríamos que é
provável que sim, que os tectos de colmo tenham tido a sua importância no
passado que é capaz de estar já um tanto distante.
E vamos a um segundo aspecto. Por comparação com outras terras dos arredores
mais próximos (Roçaio, Soito, Aldeia Velha, Sobral, Carvalhal, por exemplo) não
terá desde sempre a nossa sido a maior? Aqui entalada, apertadinha,
aconchegadinha, mas grande, com muita gente, gente sempre em actividade, a
fervilhar lá no fundo, a entrar e a sair – a sair para trabalhar, a entrar
carregada quanto mais não fosse com o molho de mato…a nossa terra não terá
parecido como que um cortiço… mas de gente… em extraordinária actividade?
Ora se se provar que foi de grande vida no passado, se se puder dizer que nela
sempre trabalhou mais gente do que nas outras terras vizinhas, se se puder
dizer que essa gente sempre foi trabalhadora e atarefada e, se além de tudo
isso, porque a palha do cereal existia, se procurou dela tirar vantagem para
fazer o tecto de colmo…
Culmum – colmena – colmeia – colmeal… talvez não seja de considerar grande
atrevimento o tentar esta pouco (ou nada) usada explicação para o significado
toponímico do nosso Colmeal. De resto a região é fria: será que o tecto de
colmo tornava a casa mais agasalhada? Certamente saberão que há na
Grã-Bretanha, zona bastante mais fria do que a nossa, épocas houve em que nada
substituía o tecto de colmo que ainda hoje por lá se vê com muita graça e
alguma frequência. E ainda há quem argumente que, se não fosse a mão‐de‐obra,
ainda era o tecto preferido…
Culmum – Colmena – Colmeia – Colmeal…
António
Simões Lopes (O Colmeal, Dezembro de 1969)
Como
se viveu na freguesia nos séculos XIII a XVII (1) As
casas eram térreas, construídas de xisto e com tecto de colmo, todas as
proporções modestas, com uma única divisão que servia ao mesmo tempo de cozinha
e dormitório. A cama, feita de palha ou fetos secos, no chão e a um dos cantos
da habitação. Pratos, garfos e colheres eram desconhecidos. Comia‐se com a mão
e do próprio recipiente onde era feita a refeição que normalmente se baseava em
papas, água ou vinho, pois que além destes não se conheciam outros líquidos.
Vestia‐se saio – espécie de vestido com mangas compridas – feito de linho
bastante grosseiro. Na cabeça usavam capuz ou capucha do mesmo tecido que os
próprios fabricavam.
Por norma andavam descalços e só quando iam para longas jornadas usavam
sandálias com correias, fabricadas rudimentamente de peles que curtiam.
Cultivavam o linho, de cujo caule retiravam a fibra para os tecidos. Das
sementes desta planta extraíam o óleo de linhaça para sedativos e emplastros.
Além da pastorícia, actividade principal, explorava‐se a agricultura, caso dos
cereais, como o trigo, centeio e milho painço, vinho e azeite. O mel, também
explorado, é usado quase unicamente como remédio para as várias doenças.
Os outros alimentos são o peixe do rio e ribeiras, carne de animais domésticos
e selvagens que então existiam nas florestas da região, tais como o gamo, veado
e javali, mas aos quais deviam ter um certo receio por falta de armas aptas
para a caça.
O aquecimento das casas só é possível graças à lenha. Para iluminação utilizam
candeias alimentadas a sebo.
Vias de comunicação não havia, e as margens do rio Ceira eram atravessadas por
pontões feitos de troncos de árvores.
Correio não existia, e quem na maioria dos casos levava as mensagens, eram os
Almocreves que forneciam as mercadorias necessárias à vida recebendo em troca castanhas
ou peças de olaria.
Como religião praticava‐se o catolicismo. Entretanto procede‐se à construção de
uma pequena capela (2) que, tal como as habitações é em xisto, coberta de colmo
e de proporções modestíssimas tendo sido dedicada a S.
Sebastião.
Os defuntos eram transportados para Selavisa, cujo
percurso era feito em duas jornadas, sendo a primeira até Sobral.
Esta foi sensivelmente a vida da nossa freguesia até ao século XVII.
As vias de comunicação eram caminhos carreteiros (3).
A partir desta altura, o milho de maçaroca, até então desconhecido, tal como a
batata e o feijão, tomaram o seu lugar na agricultura.
No século imediato, foram construídas no Colmeal, novas
habitações ao Porral, já cobertas com loisas, com dois pisos, sendo o superior
assoalhado. As lojas que continuavam térreas, eram agora utilizadas como curral
para animais e para armazenar as colheitas dos cereais.
Nesta época o homem já utilizava calções até ao joelho que, tal como o saio
ainda usado pela mulher, era de linho grosseiro e fabrico de casa.
(1)
Seguiram‐se os costumes e condições gerais do país, nesse tempo.
(2) Ficava situada, sensivelmente ao centro da actual Igreja, tomando como base
que o local formava cabeço, pela não existência dos muros de suporte,
construídos no século XIX, nos sentidos nascente - norte, poente - sul.
(3) Ainda no presente, as vias de comunicação com Açor, Ádela, Loural, Sobral,
Salgado e Saião; e do Soito a Foz da Cova, Carrimá e Malhada e bem assim com a
própria sede concelhia, isto é, até Capelo, são as mesmas que nos foram legadas
por estes nossos antepassados.
(O Colmeal, Novembro de 1970)
COLMEAL
- Um testemunho e uma história «Se
nos fosse permitido comparar a situação geográfica das aldeias da Serra de hoje
com esses pontos minúsculos e negros como castanhas defumadas, que foram os
povos de há dois ou três séculos, certamente que nos perguntaríamos como era
possível a esses povos realizar a sua vida e suportar a sua existência numa
zona alcantilada, inóspita e deserta como a nossa.
Porque, enquanto no litoral ou na planície o homem se cruzava atraído pela
pesca ou pelo comércio, na montanha ele só podia manter‐se aliciado por três
factores: exploração do minério, a guerra e a caça.
Sabe‐se, porém, que a fauna da velha província lusitana não era rica em
produtos. Em regra, o habitante das montanhas não lhe aproveitava mais do que a
carne para se alimentar e a pele para se cobrir. Nada mais tinha a pedir ao
veado, ao porco‐bravo, à cabra selvagem ou ao coelho do mato.
Se o montanhês caçava, não o podia fazer em nome de uma profissão, mas pela
necessidade de amparar a sua pequena economia, servida por outros produtos de
fraca escala.
Mas, também não se pode considerar a guerra como causa da fixação das
populações serranas.
As montanhas eram de acesso difícil, sem várzeas férteis de agricultura
rentável. Por isso, nem castelos, nem fortalezas, nem redutos. As vertentes da
Beira‐Serra nunca foram mais do que um labirinto aberto, recortado por veredas
íngremes, escondidas nos matos por onde o caminhante mal se lobrigava. Não há
vestígios duma estrada romana ou duma povoação mourisca. O seu dorso, eriçado
de tojo, estevas e urze, assemelhava‐se ao lombo dum rebanho de porcos
selvagens adormecidos num redil de muitas léguas. Nunca ali houve um torrão que
chegasse para premiar algum nobre que se tivesse notabilizado nas campanhas do
reino. Os seus retalhos de campo arável não chegavam para neles assentar um
brasão e uma legenda.
Por isso, nem duques, nem marqueses, nem barões.
Donde se conclui logicamente que só o minério poderia ser a causa única e capaz
de se deslocarem para aqui os obreiros que tiveram a dita de desbravar os primeiros
palmos de terra.
A confirmá-lo vem o facto de as nossas montanhas estarem perfuradas de lés a
lés, sem contudo se conseguir hoje determinar a maior parte das entradas e
saídas das suas minas, o seu rumo e profundidade.
O Colmeal está numa das zonas mais exploradas.
Quer a margem direita quer a margem esquerda do Ceira foram cantos que o romano
explorou com arte e sabedoria. Há mesmo povoados escondidos na Serra de hoje
que não podiam ter outra génese senão um arroio de água e uma boca de mina ou
então um ponto estratégico para viver uma vida rudimentar sem andar exposto às
feras.
Veio depois a idade da agricultura, da plantação da oliveira, do sobreiro, do
castanheiro, da vinha e cereais.
Muitos locais antigos foram aproveitados e alguns aterros utilizados para as
primeiras hortas. É então que as povoações nascem verdadeiramente e se começa a
conhecer o seu nome.
É então que nascem os Soutos, os Colmeais, os Sobrais, Carvalhos, Cabreiras,
Malhadas, Matas, Azinhais, Vales Verdes, Várzeas, Castanheiras, Salgueirais e
tantas outras terras pelas quais hoje damos tudo a fim de que, embora nascendo
em regiões sáfaras, subam ao nível de tantas bafejadas pela sorte.
É o caso do Colmeal.
Embora seja ainda hoje uma povoação modesta, não podemos dizer que seja recente.
Na Serra, são poucos os casos de povoações que se fizeram em cem anos. A falta
de comunicações e o separatismo que até há pouco vigorou entre ricos e pobres
não davam margem a casamentos precoces e fáceis. Por isso, embora o casal
dispusesse de dois ou três elementos capazes de se multiplicarem, nem sempre
isso era fácil ou a tempo de serem tronco de famílias numerosas. O que nos leva
a concluir que o desenvolvimento humano das nossas aldeias levou algumas
centenas de anos a realizar‐se e, desse movimento a passo curto, redundaram
atrasos que ainda hoje sentimos. Não nos admiremos, pois, se ainda nos falta
muita coisa. Mesmo assim poderemos considerar‐nos felizes, pois que,
precisamente esta estagnação de pessoal e coisas, levou os filhos da Serra a
entrar num clima de aventura, clima onde depois, mais tarde, haveria de nascer
o regionalismo, o grande movimento que levou uma profunda transformação a todos
os cantos da Beira‐Serra.
É esta uma das facetas mais importantes da gente do nosso tempo, que se nota em
linha apreciável, no Colmeal e sua freguesia.
O que o progresso aí conseguiu realizar bem se pode classificar de prodigiosa
renovação, devida, em grande cota, ao bairrismo dos seus filhos, perfeitamente
sintetizado no labor dos militantes da sua Comissão regionalista e no desejo
dos seus primeiros homens em verem o Colmeal actualizado e bem servido.
É o que nos parece revelar a sua estrada da Serra, os seus calcetamentos, a sua
casa Paroquial, o Centro e as diligências feitas para a construção duma nova
Igreja.
Por tudo isto, merece o Colmeal e a sua gente os nossos parabéns e o jornal que
divulga as suas necessidades e as suas belezas uma palavra de alento.
Trabalhar para viver e viver para trabalhar.
C.
Borges das Neves»
(O Colmeal, número especial,
Julho de 1971)
Invasões Francesas A
primeira povoação da nossa freguesia a ser invadida e saqueada pelas tropas
francesas foi Ádela, o que se verificou em 14 de Março de 1861. Depois,
sucessivamente, seguiu‐se Açor, Colmeal, Sobral, etc., de onde seguiram em
direcção a Celavisa, para se reunirem às restantes tropas, já então em fuga,
que em 17 do mês destruíram Arganil. Na
nossa freguesia, segundo os elementos que chegaram a nossos dias, foram
cometidas pelo invasor as maiores atrocidades, deixando o nosso povo na
miséria. Desde azeite,, vinho, carne, milho, valores particulares, até imagens
das capelas e igreja, tudo roubaram ou destruíram. No Colmeal, o povo teve de
se limitar praticamente a um cruzar de braços; mas, mesmo assim, ainda
conseguiu salvar alguns bens particulares e muito em especial um crucifixo de
prata, propriedade da igreja, que esconderam em toca de castanheiro secular, de
que existe alguns exemplares à Quinta.
A
cavalaria francesa, por todas as povoações onde passou, ia apascentar os
cavalos nas arcas onde se armazenava a colheita do milho.
Não
conseguimos recolher elementos relativos à povoações da margem esquerda do rio
Ceira, mas tudo indica que Malhada, Soito, Aldeia Velha, e muito em especial
Carvalhal, derivado à sua posição e já então abundante casario, não tivessem
sido mais felizes.
(O Comeal, Dezembro de 1973)
Cemitério Aos
doze dias do mês de Agosto de mil oito sentos e sincoenta e três annos, Na
Sachristia da Egreija Parochial de São Sebastião do Colmial sendo ahi presente
o Reverendo Parocho José Gaspar Caldeira, Presidente da Junta da Parachia (…)
foi apresentado que tinha‐se de proceder à construção do cemitério (1). Nesta
freguesia, era d’absoluta necessidade o formar‐se o Orçamento supplementar para
a sitada obra e que para isso já havia convidado os peritos…» (1)
No início deste século foi ampliado para poente, tendo‐se‐lhe colocado o actual
portão de ferro, feito por Alfredo Neves Almeida. Em 1953, a Junta de Freguesia
procedeu a nova ampliação, desta vez para sul.
(O Colmeal, Março de 1974)
«Contavam
gerações passadas e ainda idosos do presente: nem depois do passamento havia sossego. Não existia cemitério, os
defuntos da freguesia eram transportados em esquife para Celavisa, onde eram
sepultados.
E
insistiam na lamúria: era um martírio, o
transporte ao ombro ou a pau‐e‐corda efectuado em duas jornadas, sendo o
defunto velado de um para outro dia na Capela da Sobral.
Esta
lenda, pode‐se dizer, era coisa que toda a gente falava e nunca sucedeu.
As
prováveis raízes da lenda:
‐em
1841, é certo, acabou pelo teoricamente o costume de enterrar os defuntos no
interior das igrejas, ou nos respectivos terrenos que circundam os templos;
‐no
Colmeal, não tendo a população da freguesia hipóteses de cumprir o determinado
superiormente, nem estando na disposição de transportar os falecidos, os corpos
dos entes queridos, para as terras distantes e estranhas, os continuaram a
enterrar no interior da igreja ou adro;
‐com
o receio de possíveis represálias por parte do poder temporal e, eventualmente, com o apoio passivo do, espalharam
o seu “martírio”, transformando‐se uma lenda sem qualquer veracidade.
Pelos
livros da Assentos de Óbito disponíveis, constata‐se que os defuntos de todas
as aldeias da freguesia, inclusive do Sobral, eram sepultados no Colmeal, nos
espaços considerados sagrados, o último dos quais: “Aos seis dias do mês de
Abril do ano mil oitocentos e sessenta e quatro, pelas oito horas da manhã, na
casa da sua morada, no lugar de Carvalhal (…) faleceu só com os Sacramentos da
Extrema‐Unção (por ser de uma grande queda) António Martins Giraldo de sessenta
e cinco anos (…) foi sepultado no dia seguinte pelas nove horas de manhã dentro da Egreja desta freguesia”.» Fernando
Costa
(O Varzeense, Julho/Agosto 1992)
Entretanto,
tinha sido construído o cemitério, com o primeiro enterro a ser feito a 20 de
Julho de 1864: “Aos dezanove dias do mês de Julho do ano mil oitocentos e
sessenta e quatro, pelas dez da manhã, na casa da morada de seus pais, no lugar
de Ádela desta freguesia do Colmeal, concelho de Góis, Bispado de Coimbra,
faleceu um indivíduo do sexo masculino, por nome José, de idade nove dias (…)
filho legítimo de António José, natural do lugar do Ceiroquinho, freguesia de
Fajão (…) e de Josefa Mafra, natural do lugar de Ádela, trabalhadora, foi
sepultado no dia seguinte no Cemitério Público desta freguesia”.
Festas religiosas no Colmeal «As
festas religiosas nas nossas aldeias têm tradições de séculos, inclusive dias
certos, caso do segundo domingo de Agosto, no Colmeal.
Pelos
elementos manuscritos disponíveis sabemos que, pelo menos desde 1851 até 1910,
as festividades anuais eram em louvor do Santíssimo.
Na
procissão, conforme as disponibilidades financeiras, em alguns anos era
incorporada filarmónica, lançados os já tradicionais foguetes, morteiros, por
vezes, fogo de artifício.
Nos
festejos religiosos, e como era hábito no século anterior, participavam vários
padres e pregadores, sendo os encargos gerais na ordem dos 15 réis. E a
“música” (filarmónica) quando actuava cobrava 16 réis, parecendo-nos a verba
muito vultosa.
Dentro
da sua competência, as festividades eram organizadas e pagas pela Junta da Paróquia,
cuja despesa obrigatoriamente constava do orçamento da autarquia paroquial, a
aprovar pelo Governador Civil ou Câmara Municipal do concelho, sendo as contas
apresentadas em Tribunal, absorvendo todas as entidades emolumentos.
Apesar
de não ser fácil determinar o ano exacto, somente depois da implantação da I
República, separação da Igreja do Estado, os festejos passaram a ser efectuados
em louvor do Senhor de Amargura e as Seladas o centro de fé dos colmealenses.
(…)
Fernando
Costa (O
Varzeense, 1992)
Comissões de Melhoramentos
Por
ordem cronológica da sua fundação, foram estas as Comissões de Melhoramentos da
freguesia: 1931 União Progressiva da Freguesia do Colmeal 1936 Comissão de Melhoramentos de Ádela 1953 Comissão de Melhoramentos de Malhada e Casais 1954 Comissão de Melhoramentos de Soito 1964 Liga dos Amigos de Aldeia Velha e Casais 1970 União e Progresso do Carvalhal 1977 Grupo de Amigos do Sobral, Saião e Salgado 2002 Associação Amigos do Açor
De realçar que, ao longo da década 60, verifica‐se uma diminuição de cerca de 63% da população, bastante superior à das outras freguesias, havendo mesmo povoações que ficaram reduzidas a cerca de um quarto da inicial.
Seis povoações ultrapassaram uma centena de habitantes ao longo do século XX, na base de dados oficiais: