São cada vez menos as crianças a viver e a nascer nas aldeias do interior do país. A busca de melhores condições de vida leva à partida da "malta jovem" para as cidades. Para trás, vai ficando, todavia, o “deserto”. O concelho de Góis não foge à regra. Bordeiro, aldeia a pouco mais de cinco quilómetros de Góis. Por ali vivem cerca de 60 pessoas. O lugar é pequeno e o único café é o ponto de encontro das suas gentes. O tempo parece que passa por lá mais devagar. É uma aldeia onde o riso das crianças, ou o barulho das suas brincadeiras, se ouve cada vez menos. Bordeiro tem pouco mais de 10 crianças e o número tem vindo a decrescer ao longo dos anos. As famílias são pequenas e a população é maioritariamente idosa. Fernando Simões tem 40 anos. Da sua idade há mais dois a viver no Bordeiro. Solteiro e sem filhos, lembra que há uns anos "havia mais pessoas. As coisas mudaram e muitos já partiram." A busca de melhores condições de vida e de novas oportunidades levou à saída de muitas pessoas para a cidade e até mesmo para Góis. E nem a pouca distância que separa a freguesia da sede do concelho leva as pessoas a fixarem-se por lá. Augusto Martins Pinheiro conhece Bordeiro como ninguém. Há mais de 38 anos a viver no lugar, acompanha de perto tudo o que ali se passa. Do alto dos seus 62 anos, reconhece que as "pessoas não querem assumir tantos filhos" e lamenta já não ver os miúdos a brincar na rua, como antigamente. Mas ainda se vê gente nova. Marco Paulo Pedrinho tem 18 anos e nem sempre viveu no Bordeio. Hoje, confessa gostar do lugar e realça mesmo que é um bom sítio para viver. Quanto à falta de pessoas da sua idade para conviver, Marco procura companhia junto dos mais novos. Os divertimentos por aqui "não são muitos", diz. Andar de bicicleta, passear pelos montes, ir até ao café ou jogar às cartas são algumas das alternativas. E depois há sempre quem venha a Bordeiro visitar a família. Ruben Pereira está de passagem, para visitar os avós. Os seus 8 anos não o impedem de dizer que "não há muita coisa para fazer, mas sempre dá para brincar".