Orago: S. Mateus Área: 102,74 Km2 Altitude máxima: 1172 m Limites: Entre N e E: Do marco geodésico Pedra do Lumiar, segue para o de Cabeçadas, seguindo pelo viso até ao marco Entre Capelos. Deste marco, e ainda pelo viso até ao monte que fica a norte de Catraia do Azevedo, inflecte para sudeste (atravessando a EM 112) para o local de Selada do Estreitinho, seguindo depois o viso até Piçarra do Asno. Continua por um caminho vicinal praticamente com a direcção NS (passa à direita de Algares) atá ao marco geodésico do Telhado. Deste marco segue a estrada até junto da povoação da Telhada, continuando por caminho vicinal até ao cimo de Vale Coelho até ao local designado por Alminhas, e ainda até passar a E do marco geodésico de Relveirinho, continuando por caminho vicinal até à Ribeira da Pampilhosa; Entre E e S: Ribeira da Pampilhosa; Entre S e W: Ribeira de Mega; Entre W e N: Ribeira de Mega até à nascente ( a sul do marco geodésico Pico 1º), inflecte para NW por caminho vicinal a E do marco geodésico Neve, para prosseguir por caminho vicinal em direcção a Santo António da Neve, daqui segue o viso, na direcção NE até Porto de Carvalha, para virar para ESE até ao local designado por Cimo do Carvalhal, prosseguindo pelo viso atá ao marco da Pedra do Lumiar. (Fonte: CCRC-1982)
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Estendendo-se para a bacia do Zêzere, na vertente sul dos maciços da Lousã e do Açor, as terras Alvares tem um passado muito antigo. Em 1219, Mário Paredes Ramos diz que tinha “Carta de Convenção”. * * Sua palestra na Casa das Beiras, em 5 de Junho de 1960, de que não obtivemos confirmação.
A Herdade de Alvares era pertença do mosteiro de Folques, concelho de Arganil, antigo convento dos Frades Crúzios, provavelmente datado de 1162. Seria doada a Martim Gonçalves e sua mulher Maria Viegas, pelos Cónegos do Mosteiro, para que “fosse roçada”, lavrada e nela plantada vinhas e árvores, conforme regista uma Carta de Foral de Setembro de 1281 (1319 da era de César), e confirmado em Coimbra por rei D. Dinis. Este foral seria substituído por outro, a mando de D. Afonso V, por alvará de 10 de Abril de 1462, e a pedido dos moradores, por se achar “já velho e ilegível em algumas das partes”. E aqui aparece já a designação de “concelho”.
A Herdade de Alvares era limitada “...a Oriente com o Souto de Santa Maria pela cumeeira entre Carvalho e Pessegueiro, e vai até Unhais e Chã acima do Machio e Martim Viegas, e desce até ao Zêzere, limitando com Álvaro pela corrente do Zêzere, e termina na foz de Unhais, limitando com Pedrogão pela corrente da Marga, donde vai até Cabeça de Pera” (passagem para português corrente da carta de foral, feita por Fernando Costa).
Em 25 de Setembro 1472, D. Afonso V institui, por decreto, o título conde de Arganil, em favor do bispo de Coimbra D. João de Galvão (e, a partir daí, os seus sucessores na catedral conimbricense usaram esse título, sendo conhecidos por “bispos-condes”). Simultaneamente, foi dado ao prior do mosteiro de Folques, D. Miguel Pais da Silva, por deixar de ter a jurisdição em Arganil, o título de conde de Alvares e senhor da vila de Fajão (Pampilhosa da Serra).* O convento conservaria os senhorios destas duas vilas, nelas tendo jurisdições, colocando alcaides, recebendo jogadas, etc., e todas as vezes que os priores de Folques se deslocavam à vila de Alvares (Góis) era a Câmara obrigada a dar-lhes uma quantia em dinheiro para o jantar. * Referido por Anselmo dos Santos Ferreira (em Memórias da Vila de Alvares, 1954). Não tivemos confirmação da concessão deste título nobiliárquico, nem do seu uso.
Em 1514, com a data de 4 de Maio, o foral seria renovado e confirmado pelos Forais Novos de D. Manuel I. Estava então inserido na Comarca da Beira. Em 1762, era vila na correição de Tomar, Estremadura. Em 1805, a vida municipal encontrava-se já bastante desorganizada, “a ponto de os seus vereadores terem de pagar do seu bolso os défices que houvessem” (Mário Ramos, 1960). Em 1821, era concelho da Beira, com 492 fogos e 2067 habitantes. Em 1826, agregou a freguesia da Portela do Fojo (que tinha sido criada em 1795 com 104 fogos). Em 1835, era concelho no julgado de Figueiró dos Vinhos, Beira Baixa. Em 1836, o concelho seria extinto por decreto e restaurado no ano seguinte. Em 1842, seria incluído no distrito de Coimbra, província do Douro, tendo então 582 fogos e 2910 habitantes.
Em 1855, pela Lei de 24 de Outubro, o concelho de Alvares seria definitivamente extinto. A freguesia de Alvares seria agregada ao concelho de Góis e a freguesia de Portela dio Fojo ao de Pampilhosa da Serra. Os últimos vereadores da sua Câmara Municipal, Joaquim Baeta de Almeida, presidente, Manuel Lopes Cortez, João Gaspar das Neves Pinto e Manuel das Neves Gusmão, vogais, não deixariam de lavrar o seu protesto, na acta da sessão de 29 de Novembro daquele ano: “O Presidente abriu e leu um ofício da 2ª Repartição do Governo Civil, com data de 24 do corrente, o qual dá parte que tendo este concelho sido suprimido por carta de Lei de 24 do corrente, passando esta freguesia para Góis e a de Portela do Fojo para a Pampilhosa da Serra, faça esta Câmara entrega por inventário à Pampilhosa de todos os livros e papéis pertencentes ao arquivo. A Câmara ficou ciente e declarou que este concelho devia fazer sentir ao Governo de Sua Majestade a injustiça que se lhe havia feito, pedindo a sua reintegração.”
“Apesar de se dizer que o arquivo deveria ir para Pampilhosa da Serra, há informações de que tinha ido para Góis, onde ardeu por completo, conjuntamente com o de Góis, num grande incêndio. Haverá engano nesta informação?” (J. A. [Jaime Arnault?], em Acção Regional, de Junho de 1931).
«Nesta minha freguesia há treze ermidas, três das quais são particulares, porque a Ermida de São Caetano, que estã na Vila, foy instituida por Simam Diogo Barreto e Sº António, que também estã na Vila foy instituída por Silvestre Vás e sua mº Lianor Borges, e todos foram moradores nesta Vila e a Nª Sª da Memória do lugar dos Padroens foy instituída por Snr Luís Borges q. foy morador do mesmo lugar; as mais q. a. de Sam Sebastiam desta Vila, a de Sam Pedro de Amioso Fundeiro, a de Sam João das Cortes, a de Sam Domingos de Mega Cimeira a do Espírito Santo de Amioso de Ametade, a de Nª Sª da Conceição da Roda Cimeira, a de Sam António do Casal Novo, a de Nª. Sª da Piedade da Simantorta, a de Santa Margarida da Cham de Alvares, a de Nª Sª de Guadalupe da Amoreira, sam do povo e a nenhuma vem curso de gente por não haver Imagem Milagrosa... Na Igreja da minha fregª, nem nas Ermidas della nam ha reliquia insígne de Sª ou Sª, que tenha authentica certidam de Roma. (...) nam há Caza de Misericordia, hospital, nem recolhimento algu. Nam há Capella, nem sepultura,q. tenha letreyros, nem armas. Não ha memórias, porque nesta Igª nam há Cartório. Esta Igreja nam he Collegiada, e por isso nam ha benefícios, nem coadjutores» (Informações Paroquiais de 23 de Maio de 1721, manuscrito da Universidade de Coimbra, reproduzido pelo Padre Ramiro Moreira em Monografia da Freguesia de Alvares)
Em 1897, José Afonso Baeta Neves descrevia assim a freguesia: “A freguesia de Alvares, com uma população de 3785 habitantes e 855 fogos espalha-se por uma superfície bastante extensa e irregular, sem todavia apresentar as grandes diferenças de nível que se notam nas outras freguesias da serra. As maiores elevações do concelho, como Trevim, Pedras do Lumiar e Entrecapelos, estendem para esta região os seus contrafortes mas em pendor relativamente suave. Devido a esta circunstância, os vales de erosão são pouco profundos, em geral, de modo que a agricultura pode aproveitá-los não só para a formação de pequenos prados, mas também para a cultura da vinha, em resultado bastante remunerador. Ainda assim, a agricultura é muito menos extensa do que exige a densidade da população. Para corrigir o deficit de recursos alimentícios, efectua-se aqui a emigração periódica e anual, de grandes levas de trabalhadores para as mondas e apanha da azeitona no Ribatejo e ceifas em Espanha, o que, com a sobriedade e economia dos habitantes desta freguesia permite atenuar a escassez do solo. A população fixa, além da agricultura, entrega-se à fiação e tecelagem manuais de um tecido em lã, chamado burel. A lã provém da província de Trás-os-Montes e o seu fio é áspero e longo. Hoje até esta indústria se encontra em decadência, porque o consumo do burel diminuiu consideravelmente e porque tendo-se estabelecido em Alvares uma fábrica de fiação, por iniciativa de Manuel Barata Lima e outros, a fiação e cardação de lã fazem-se mecanicamente. Alvares tem estação postal, escolas de primeiras letras para ambos os sexos e ainda uma mista, há pouco criada. De vias de comunicação tem apenas um começo de estrada municipal a macadame, sem probabilidade de se vir a concluir.” (Notícia Histórica e Topográfica da Vila de Góis e seu termo, 1897)
E em 1954, Anselmo Santos Ferreira: “Nos princípios do século XX, a freguesia de Alvares fazia parte da província da Beira Baixa, permutando as malas de correio com um estafeiro da Pampilhosa da Serra, embora pertencesse, como hoje, ao concelho de Góis”
Câmara Municipal e Pelourinho «O edifício da Câmara Municipal de Alvares situava-se ao centro da vila, hoje pequeno largo, em frente ao café do sr. José Manuel Aleixo de Carvalho. Esse edifício foi demolido há vários anos, dando lugar a esse pequeno largo já referido e à rua que o liga á rua principal. O edifício da Câmara era formado por uma sala, num andar superior, e duas divisões térreas, que serviam de cadeia para homens e mulheres. Depois de extinto o concelho de Alvares, este edifício funcionou como escola primária, durante muitos anos, para o sexo masculino, e depois foi o posto clínico do partido médico de Alvares.» (…) «O pelourinho de Alvares era de estilo manuelino, arte ou estilo próprio da época. Devia ter ser construído, como era hábito, em frente da Câmara Municipal, tribunal e cadeia, donde emanava o poder judicial. O pelourinho de Alvares conheceu vários locais e presentemente está no largo do Soito, numa esquina do muro que passa. Talvez por isso reste apenas uma simples coluna cilíndrica de uns dois metros de altura. O prof. Anselmo dos Santos Ferreira diz que, por motivo de um acidente de viação motorizada, o pelourinho partiu-se e a parte superior foi mandada fixar à terra junto da casa onde vivia seu pai, prof. Manuel dos Santos Ferreira, Presidente da Junta 1, ao fundo da vila.» (Padre Ramiro Ferreira, em Monografia da Freguesia de Alvares, 2001)
Produção de burel A freguesia de Alvares foi outrora um centro produtor de burel de extraordinária importância que paulatinamente se foi extinguindo, devido talvez aos processos arcaicos como era fabricado, por um lado, e, por outro lado, ser já de reduzido gasto este tecido grosseiro, cinzento-acastanhado com que se manufacturavam as capuchas (havia de dois feitios e eram largamente usadas em toda a vasta região das Beiras) e capotes, que tinham a sua preferência um pouco por todo o lado. Essa indústria artesanal, de grande projecção e desenvolvimento para a época, de que viviam muitas famílias, pois movimentava centenas de pessoas, sobreviveu, pode dizer-se, até aos primórdios do século XX. Não havendo outras indústrias, era o fabrico de burel, portanto, o ramo de actividade que mais seduzia os homens de negócios deste meio alvarense. Além de outras, eram a sede do concelho (Alvares), Cortes, Mega, Casal Novo e Casal de Cima (Chã), as povoações que dispunham de fiar e tecer o burel, embora num trabalho manual que passava por várias operações e envolvia a ocupação técnica de muita gente. Na impossibilidade duma descrição mais desenvolvida, como bem desejaríamos, vamos apenas dar uma pálida ideia dos vários aspectos sobre o tema em apreço. A lã por aqui então produzida era muita, mas, apesar disso, era manifestamente insuficientemente para as necessidades, pelo que os fabricantes tinham que a importar na sua maior parte, indo eles próprios nas suas mulas (muitas vezes com as libras escondidas nas albardas e os alforges cheios de farnel) comprar grandes quantidades a Trás-os-Montes e Alentejo, especialmente, e Bragança e Évora, onde se demoravam um ou dois meses de verão, depois da tosquia. Geralmente a lã era lavada nas áreas da sua procedência e só depois disso é que era transportada para aqui em carros de bois, antes da viação acelerada e até do próprio caminho-de-ferro existirem. Chegada a lã, iniciavam-se então as várias fases da sua preparação para o fabrico do burel, que consistiam: Escolha extracção das impurezas; cardação, por homens com pequenas cardas de mão, sendo o azeite de oliveira o óleo que lhe aplicavam; a fiação, por mulheres e raparigas, à roca ou à roda, produzindo esta um som característico de ainda hoje se fale de uma pessoa tagarela, que está a fia à roda; a urdidura, em dobadoira especial donde saía a teada para as tecedeiras que, por último, transformavam o fio em pano estreito, se era para capuchos, um pouco mais largo, se destinado a capotes. Dos teares, que eram manuais obviamente (ainda conhecemos um duma senhora idosa, ali no Vale das Cerejeirinhas), o burel era submetido ainda a outra operação, a da pisoagem, em pisão hidráulico. A última fase acabamento terminava no estendadoiro, para enxugar, e só então era enrolado numa espécie de sarilho que, em peças de cem varas, lhes dava a forma de queijos enormes, na sua maior parte em grande escala, diremos mesmo, destinadas à exportação para o Alentejo e vendido pelos negociantes ou mesmo pelos fabricantes que percorriam grande parte do país. Pelo que particularmente toca a Chã de Alvares, sabe-se que aqui existiram sempre numerosos industriais e negociantes deste produto lanígero, que era o burel. O seu uso e comercialização foi decaindo, no entanto, com o tempo, foram desaparecendo também os que a essa actividade se dedicavam. Sobreviveram os Ladeiras, que atraídos por este ramo de negócio que vinha dos seus antepassados, o continuaram até ao seu declínio total, no princípio deste século. Individualmente foram eles: João Lopes Ladeira, Manuel Maria Lopes Ladeira, Joaquim Lopes Ladeira e um primo deste, Manuel Lopes Ladeira, que, à excepção do primeiro, ainda bem conhecemos. Por vezes verificavam-se algumas desinteligências entre os fabricantes alvarenses para conseguirem o trabalho feito, e das questiúnculas havidas entre uns e outros e, sobretudo, com a Câmara deste concelho de Alvares, reza o documento que se segue: (Resolução de Sua Majestade, a Rainha, e do Ministério do Reino, do Paço de Sintra, datada de 12 de Julho de 1842, anulando uma contribuição de cento e cinquenta réis incidente sobre cada arroba de lã importada pelo concelho de Alvares para consumo das fábricas locais). (O Varzeense, Maio de 1989)
Ainda se encontra de pé a chaminé da fábrica de Manuel Barata Lima, em Alvares, encerrada em meados do século XX, por muitos considerado o “ex-libris” da povoação.
A indústria de produtos resinosos A indústria resineira da Chã vem desde há cerca de sessenta anos, quando em 1921 um respeitado chãsense, inteligente e dinâmico, que nesse domínio marcou posição de relevo – Antonino Barata Neves – instalou aqui, de sociedade com seu cunhado João Alves Roda, a primeira fábrica de produtos resinosos. Essa fábrica de que, entretanto, o diligente industrial se desligara para ir instalar uma outra, exclusivamente sua, em Alvares, viria a ser a precursora de mais três unidades implantadas logo a seguir pelos srs. Manuel Pedro Aleixo, Joaquim Maria Alves e irmãos Manuel Henriques de Almeida e José Henriques de Almeida. Verificava-se assim, na década 20, que a Chã possuía em laboração periódica, como é óbvio, nada menos de quatro destilarias de resinas. Estava-se então praticamente no alvorecer duma indústria nacional que chegava até nós desprovida de quaisquer requisitos técnicos ou económicos a favorecê-la, dadas as contingências em que arcaicamente se tinha de desenvolver, desde o método de destilação (por simples alambique) até á exploração da gema (à portuguesa), passando pela inexistência de estradas e meios de transporte condignos e até por um pinhal menos numeroso em relação aos que haveria de vir nas décadas seguintes, tudo isto concorrendo, deste modo e como é evidente, para um índice de menor produção e quantidade dos produtos obtidos – o pez louro e a aguarrás. Foi talvez devido ao peso de tanta contrariedade que as duas últimas enceraram volvidos alguns anos. Sobreviveram duas, portanto: as que tinham como proprietários João Alves Roda e Manuel Pedro Aleixo, dois homens dotados de extraordinária actividade e iniciativa, vocacionados para o negócio que, persistindo, souberam vencer – embora o primeiro cedo deixasse o mundo, morrendo prematuramente, em 1933, sem ter podido dar a grande transformação que os tempos e a técnica foram reclamando e que só mais tarde pode ser operada na moderna fábrica que fundara. Manuel Pedro Aleixo, por outro lado, morreu octogenário (em 1967), mas esse, sim, já no pináculo da obra que lhe foi dado realizar, não obstante os revezes sofridos pelo fogo que, por três vezes, lhe destruiu a fábrica. Contudo, este châsense de rija têmpera e de ânimo irresistível nunca sossobrou ante esses infortúnios fortuitos que sempre soube contornar com admirável perseverança e tenacidade, assim deixando um modelar estabelecimento industrial (hoje gerido, competentemente, por seu filho, sr. José Pedro Aleixo) que, com o seu congénere referido atrás, dignificam a indústria resineira e honram a localidade (a Chã) onde se acham implantados – realidade viva de quem bem poucas terras se podem orgulhar. Antonino Barata Neves, por seu turno, industrial excepcionalmente fecundo e de rara capacidade de acção, soube orientar e desenvolver a indústria de tal modo que ao falecer, em 1953, com 64 anos de idade, possuía em plena actividade, além do estabelecimento fabril alvarense, mais dois outros ainda: na Barroca (Fundão) e em Ceira (Coimbra). Com esta resenha retrospectiva sobre a indústria resineira na Chã e os homens que, talvez em condições adversas mas com o espírito inabalável de vencer, a criaram e a desenvolveram, progressivamente, concluída fica a nossa crónica de hoje. Aristides Lopes (Jornal de Arganil, 19 de Outubro de 1979)
Comissões de Melhoramentos Foi na freguesia de Alvares que se formaria a primeira colectividade regionalista do concelho, concretizando um movimento que parece ter origem nos inícios da década 20, contemporâneo dos que despontavam nos outros concelhos da Beira Serra. Não seria uma colectividade de âmbito geral, cobrindo a freguesia, como viria a suceder noutras freguesias do concelho. Contudo, na década de 40, algumas vozes propunham a fusão, numa única Liga, das cinco colectividades mais activas na época, asde Alvares, Amioso Fundeiro, Chã, Cortes e Roda Cimeira. E, mais tarde, em 1988, verificar-se-ia uma tentativa de criação de uma Federação Regionalista da Freguesia de Alvares, agrupando todas as colectividades, chegando a haver reuniões preparatórias e elaboração de estatutos, em torno de objectivos definidos: “Desenvolver a freguesia nos seus aspectos sócio-culturais e sócio-económicos; reforçar a vertente regional das colectividades regionalistas, por forma a conseguir a sólida-riedade de todos os naturais; fomentar o cooperativismo, (...)”. Tal propósito não viria a ser aceite pela generalidade das colectividades da freguesia. A criação de uma federação, com o objectivo de aquisição de força na união, era contrária ao sentimento que desde o início tinha envolvido o movimento regionalista. Era colocar a razão acima do coração, substituir o romantismo pelo materialismo, passar do regionalismo para o Regionalismo (ver “Algumas coordenadas do movimento”, p. 43).
As Comissões de Melhoramentos que se constituíram nesta freguesia foram: 1928 Sociedade de Melhoramentos de Roda Cimeira 1929 Sociedade de Melhoramentos de Amioso Cimeiro 1930 Comissão de Melhoramentos de Cortes 1933 Comissão de Melhoramentos de Relva da Mó 1934 Comissão de Melhoramentos de Roda Fundeira 1935 Comissão de Melhoramentos de Amioso Fundeiro e Lomba 1937 Liga de Melhoramentos de Chã de Alvares 1941 União Progressiva de Amioso do Senhor 1944 Comissão de Melhoramentos do Povo de Amieiros 1946 Comissão de Melhoramentos de Mega Cimeira 1946 Liga de Melhoramentos da Telhada 1947 Comissão de Melhoramentos de Alvares 1950 Comissão de Melhoramentos de Obrais 1950 Comissão de Melhoramentos de Simantorta 1951 Comissão de Melhoramentos de Algares 1953 Comissão de Melhoramentos de Amiosinho 1953 Sociedade de Melhoramentos de Casal Novo 1956 União Progressiva de Milreu e Povoações Limítrofes 1978 Comissão de Melhoramentos de Estevianas 1983 Comissão de Progresso Amigos da Coelhosa 1985 Comissão Os Amigos de Fonte Limpa
Não foram consideradas as Comissões de Melhoramentos de Mega Fundeira e de Varzina, que encontramos referidas na imprensa e em documentos antigos, por nos parecer tratar-se apenas de intenções, sem se ter verificado a sua concretização. A Associação Recreativa Alvarense que, durante parte do tempo da sua actividade, teve uma componente de âmbito regionalista, é referida no historial da Comissão de Melhoramentos de Alvares.
Evolução demográfica Os dados da população residente que os censos nos indicam, confirmam uma contínua queda da população da freguesia a partir de 1940, até final do século, com decréscimo acentuado nas décadas de 50 e 60:
Povoações que, ao longo do século XX, tiveram mais do que uma centena de habitantes:
Cortes Alvares
Casal
de Cima
Roda
Cimeira
Mega
Cimeira
Casal
de Baixo
Amieiros
Amioso
do Senhor
Amioso
Fundeiro
Amioso
Cimeiro
Simanorta
Roda
Fundeira
Telhada
Carrasqueira
Cortes, que nos inícios do século XX tinha uma população praticamente idêntica à da sede do concelho, tem vindo, ao longo da segunda metade daquele século, a aumentar o seu peso relativo na freguesia: de 15-16 % nas décadas 40 a 60, a sua população atingiria, em 2001, 25 % do total da freguesia.
Bibliografia de Referência Memória acerca da vila de Alvares, deAnselmo dos Santos Ferreira, 1954, Coimbra, Tipografia Comercial. Monografia de Freguesia de Alvares do Concelho de Góis, de Padre Ramiro Moreira, 2001, Lisboa, Olegário Fernandes - Artes Gráficas, S. A.