RELIGIÃO POPULAR
Alminhas
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Lisete de Matos fez o levantamento das alminhas desta freguesia. Desse trabalho (cuja Introdução se encontra neste site, na página inicial das Alminhas), retiramos:
« (...) Há alminhas que ficaram fora deste levantamento? Quais e onde? Em relação ao que se diz, há alguma alteração a fazer? Há alguma coisa que se deva acrescentar? Em que data, precisa ou aproximada, é que determinadas alminhas foram construídas? Por quem e porquê? Em que data é que foram reconstruídas? Por quem e quais as razões? Que alterações de localização, estrutura ou imagética é que sofreram com a reconstrução? Que histórias ou lendas é que se encontram associadas a determinadas alminhas? Que pormenores podem ser acrescentados? Enfim, informação que seria interessante recolher e registar, antes que se perca. O levantamento foi feito nos finais de Maio / inícios de Junho de 2013. Agradeço muito a todos quantos me acolheram, levando-me até às alminhas mais recônditas, e facultando-me informação. Se esqueço alguém peço desculpas: Jaime (Açor); Alice, Maria Augusta, Maria Vitor e António Lopes (Aldeia Velha); Fernanda (Carrimá); Emília, Maria do Patrocínio, António e José Joaquim (Carvalhal); Maria Luísa, Elisabete, Fátima, Belmira, Maria Eugénia, Abel, Manuel Domingos, Manuel de Carvalho, Manuel dos Santos (Colmeal); Ana Maria e José Nunes (Góis); Aurora, Leziria, António Martins e João Vicente (Malhada); Maria da Conceição (Sobral); Júlia, Armando e António Duarte (Soito). Encontrei ao todo quinze alminhas, destruídas que foram outras de que há notícia pela construção e o alargamento de estradas, talvez também por incêndios. A indiciar devoções e gostos mais ou menos recentes, a maior parte das alminhas encontra-se enfeitada com velas, jarras e flores artificiais, que dificultam o encontro do olhar das imagens com o nosso. Sempre que os retirei para fotografar, voltei a colocá-los. A maior parte das alminhas tem caixa de esmolas, algumas das quais abertas. Em princípio, as esmolas são hoje diminutas e, a serem retiradas, são-no localmente. Na paróquia, a Mordoma das Almas é Belmira Almeida, do Colmeal, que apenas recebe as ofertas que lhe entregam, valores que se destinam à celebração de Missas pelas almas. Os funerais já não se fazem acompanhar pelo Painel das Almas, “um grande painel em madeira acastanhada, com as almas pintadas que era levado por homens, um de cada lado”. » AÇOR |
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Alminhas em forma de oratório com porta em vidro, situadas à beira da estrada, no Vale, junto à entrada sul da povoação. Foram mandadas construir em 1975, por José Nunes dos Santos, em substituição de umas antigas com painel em madeira, que existiam na parede da casa da família. O painel é em azulejo, e representa S. Miguel, com o diabo/dragão subjugado a seus pés pela lança que segura na mão direita, enquanto a esquerda segura a balança de pesar as almas. No canto inferior direito do painel pode ver-se a inscrição: “Estatuária. Coimbra”.
A imagem de S. Miguel é frequente em alminhas, devido às orientações da igreja nesse sentido. Não encontrámos mais no Colmeal, mas, curiosamente, é também a imagem das Alminhas do Padre André – cujo pai era do Açor -, a que já aludimos. S. Miguel é também o padroeiro de várias Confrarias das Almas em funcionamento em paróquias.. Na freguesia, só nestas alminhas e nas Belide (1959) é que são visíveis a data de construção e o nome de quem as mandou construir. Estas alminhas foram limpas e pintadas em 2012 pela Silvina e o Manuel, filha e genro do falecido José Nunes dos Santos. Perto do Açor, no Vale do Açor, existiam umas alminhas antigas, com painel em madeira, que foram demolidas com a construção da nova estrada para o Colmeal. Havia a intenção de as reconstruir, mas isso não veio a verificar-se. |
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ALDEIA VELHAAlminhas muito antigas, situadas à entrada, mas já dentro da povoação, no cruzamento da rua principal com uma que conduz para a direita. Do ponto de vista da localização, são um caso evidente de umas alminhas que se tornaram interiores, devido ao crescimento da terra para as suas extremidades, no caso, por reconversão para habitação de palheiros e currais do gado.
São umas alminhas em forma de oratório construído a pedra e barro, mas que se apresentam rebocadas a cimento, material de que também parece ser o telhado. Segundo os residentes com quem falei, aquelas alminhas estiveram sempre ali e não foram objeto de qualquer alteração ao longo do tempo. Terão sido mandadas construir por uma senhora chamada Prazeres, que faleceu há muito tempo com mais de oitenta anos. Estimam, assim, que tenham cem ou mais anos. A antiguidade destas alminhas depreende-se, sobretudo, através do retábulo, que é uma pintura sobre madeira, caso único na freguesia. Trata-se de uma pintura realmente muito básica, que se encontra muito esbatida pelo tempo. Mostra uma alma (feminina) a levantar os braços suplicantes para Cristo crucificado. De ambos os lados da cabeça dessa alma, há umas imagens escuras que tanto parecem aves, como chamas. Dos pregos nas mãos de Cristo, pendem uns fios para uma espécie de cálices muito esguios. Será sangue a escorrer? Será confusão com a balança de S. Miguel? Por cima dessas figuras, há umas flores da mesma cor. No canto inferior direito, constam a inscrição P. A. (Pai Nosso, Avé Maria) e dois A na vertical, enquanto, do lado esquerdo, os dois A são na horizontal. Serão a assinatura? No topo da cruz pode ver-se a sigla INRJ (Jesus Nazareno Rei dos Judeus), com que os romanos sinalizaram os motivos da condenação de Cristo. A base do nicho é em tabuinhas de madeira pintadas a azul. |
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Alminhas também muito antigas, situadas num cruzamento da rua/estrada por baixo da aldeia, denominado “Almas”. Destas alminhas só resta o nicho feito de pedras. Ocupando o topo da parede de uma fazenda, encontra-se emoldurado na parte superior por um corrimão de videiras. Sobre o retábulo, de acordo com uma versão, nunca existiu, de acordo com outra, era em madeira, mas desapareceu.
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Alminhas em forma de oratório, situadas por baixo da povoação, num caminho que dá acesso a casas e terrenos de cultivo. Foram mandadas construir pela população em 1951, e reparadas em 1976, datas que constam da estrutura. Inicialmente construídas a pedra e terra, foram rebocadas quando dessa reparação, altura em que o painel em madeira, que começava a apodrecer, foi substituído pelo atual em azulejo.
O painel é em azulejo e tons de azul. Encimado por Cristo crucificado, há almas nas chamas, duas das quais estão a ser ajudadas por anjos. No topo da cruz, lê-se “INRJ”; No canto inferior direito, “Bruma Limitada. Coimbra”. Estas alminhas não têm caixa das esmolas, o que não era habitual, na época. |
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Alminhas de nicho situadas no largo, à entrada da aldeia. Foram construídas por António Martins Nunes, nome cujas iniciais constam da base do nicho, bem como uma pequena cruz, à direita. O painel em azulejo mostra a Sagrada Família, com S. José e o jovem Jesus a carpinteirar, enquanto Nossa Senhora fia.
Estas alminhas lembram a grande devoção de António Nunes, que acalentou o sonho de ver construída uma capela em Carrimá, ainda que pequena. Para tanto, pediu um terreno perto do largo, e tentou mobilizar a comunidade, sem sucesso. “Ele tinha a vontade, mas como não tinha os meios, não conseguiu. Então decidiu fazer o nicho e pôr lá aquela imagem” (Fernanda). A placa toponímica que encima o nicho também foi da iniciativa de António Martins Nunes, no caso com a colaboração do primo Luís. Foi colocada sobre as alminhas, possivelmente por estar ali um rebordo já feito, em homenagem ao presidente da junta de freguesia, que dotou a aldeia com estrada (1975/76) e outros benefícios, nomeadamente escadarias e caminhos cimentados. CARVALHAL DO SAPOAlminhas situadas na descida para a aldeia, num sítio que me disseram chamar-se “Trincheira” e, também, “Relveiro do Rego”. A estrutura é em forma de capela relativamente pequena, apresentando uns banquinhos laterais individuais compatíveis com o pouco espaço disponível. O painel em azulejo mostra a imagem de Nossa Senhora do Carmo coroada, com o Menino sem coroa no braço esquerdo. Refiro os pormenores da posição do Menino e da coroa, porque divergem de imagem para imagem da mesma Santa. Como é frequente neste e outros painéis, no topo, de ambos os lados, há rostos de anjo. Na base, envoltas em chamas até ao peito, uma alma feminina e outra masculina são ajudadas por anjos femininos dotados de grandes asas.
São umas alminhas relativamente recentes, pois foram mandadas construir por Libânia Martins, no regresso de Angola, quando da descolonização. Existiram no Carvalhal umas outras alminhas de capela ou alpendre, na Póvoa da Lomba. Foram mandadas construir haverá uns setenta anos, por José Maria Barata, em cumprimento de promessa dos seus avós, que as terão prometido em agradecimento pela sobrevivência de umas meninas gémeas. “Eram umas alminhas muito lindas, tinham Cristo, as gémeas e tudo! E davam ali muito jeito, cobertas e com os bancos ao comprido. Então quando chovia …! A gente vinha com os molhos de mato, pousava-os e sentava-se nos bancos a descansar! Foram demolidas há uns anos para passar um estradão dos ralis. Estão em casa da Cilinha, que também teve gémeas ….” (Maria do Patrocínio).
Alminhas de nicho em pedra, situadas numa antiga saída para a Candosa e o Cadafaz, num sítio chamado Pinheiro. Também se encontram incrustadas numa parede, próxima do desmoronamento. Em princípio por desvanecimento da imagem, do retábulo só sobra a madeira, rachada ao meio e irregular nas extremidades.
COLMEALAlminhas, situadas no Torgal, na berma da estrada que liga Colmeal a Góis, por baixo da capela do Senhor da Amargura. Foram construídas em 1984 ou 1985, por José Nunes, natural da Cabreira e residente em Góis, em cumprimento de promessa de sua esposa Ana Maria Alves Nunes, natural de Colmeal. São em forma de oratório, com a estrutura e o telhado em xisto. Este é sustentado por uns tubos na vertical, que também aparecem nas alminhas da Foz da Cova, Malhada e Soito.
O painel em azulejo representa a imagem de Nossa Senhora de Fátima com os pastorinhos em oração e ovelhas a pastarem. Representando devoção e agradecimento, trata-se de umas alminhas na forma e na apresentação, mas que não radicam no culto dos mortos. “Tinha dezassete anos, quando fiz a promessa, nessa altura não pensava na morte.” (Ana Maria). No Colmeal, existiram outras alminhas. Por exemplo na Eira, onde foram demolidas com a construção da Casa Paroquial. Seriam um oratório em xisto com um pequeno nicho e um painel em madeira que tinha as almas do Purgatório. No caminho para o Carvalhal, logo depois da travessia do rio, num sítio chamado Riqueijo, existiram outras em forma de capela ou alpendre, que terão desaparecido com um incêndio. Também à Ponte, existiram umas que eram uma cruz em ferro espetada na rocha. Lembravam um rapaz do Carvalhal que veio ao moinho, e que se afogou ao tomar banho no rio Ceira, enquanto esperava que o milho moesse.
FOZ DA COVAAlminhas em forma de oratório, situadas na estrada para a Malhada, na cortada para o lugar, num sítio chamado Entrecaminhos ou Barroca das Almas. Foram mandadas construir por José Baeta, da Malhada, haverá uns catorze anos, próximo do sítio onde terão existido umas outras, mandadas construir por José Maria, da Foz da Cova, haverá uns setenta anos. Numa outra versão, terão sido por familiares, quando José Maria faleceu.
O painel em azulejo representa o Anjo da Guarda, a proteger duas crianças e um cordeirinho. A menina leva um ramo de flores, o rapaz não consegui identificar o que leva na mão. MALHADAAlminhas em forma de oratório, situadas no largo da terra, junto ao lavadouro e outros edifícios públicos. Foram mandadas construir por Celeste dos Santos haverá vinte e cinco ou trinta anos, em cumprimento de promessa de um familiar que faleceu sem a ter cumprido. “Lá foi algures, e aconselharam-na a fazê-las …” (Aurora).
O painel em azulejo mostra Cristo na cruz, com as alminhas nas chamas, em baixo. O desenho é muito simples, parecendo Cristo apenas um esboço. Apresenta a particularidade de ser quadrado e não retangular como a maioria, e de ser em azul, e não nas tradicionais cores vivas. É também o único painel, no conjunto de as alminhas que visitámos, em que o apelo à oração aparece por extenso: “Pai Nosso, Ave Maria”. Apelo esse que é raro, nas alminhas do Colmeal. Estas alminhas, foram arranjadas haverá uns quatro anos, por João Casimiro Vicente, que, para tanto, recolhe as esmolas. Caso se verifiquem excedentes, entrega-os aos mordomos dos santos da localidade. Alminhas, ao lado das anteriores, sendo uma espécie de capelinha com as paredes em vidro, a proteger uma imagem tridimensional de Nossa Senhora de Fátima. Foram mandadas construir, em 2011, por António Martins, natural da Malhada e residente no Colmeal, em cumprimento de uma vontade da sua esposa Maria Antónia Cerdeira, já falecida.
Também diferentes na intenção com que foram construídas, mas alminhas na apresentação e na forma, incluem-se neste levantamento por fazerem parte do mesmo espírito de devoção e fé. QUINTA DE BELIDEAlminhas situadas na Assentada de Belide, à beira da estrada que liga o Rolão a Fajão.
São as alminhas em forma de capela ou alpendre maiores que encontrámos na freguesia, com os seus bancos ao comprido, a convidarem à oração e ao repouso, agora perturbado pelo ruído pastoso das eólicas, que varrem o céu e o sossego da serra. Conforme inscrição na própria estrutura, foram construídas em cumprimento de promessa, em 1959, por Bernardo Gomes Monteiro, conhecido por Bernardo Cebola, por ser de uma terra da Pampilhosa da Serra com esse nome. Negociava em carvão. O painel em azulejo representa Nossa Senhora do Carmo, desta vez com o menino do seu lado direito e também ele coroado. A presença solícita dos anjos a intercederem pelas almas envoltas em chamas persiste. Para além do painel das almas, existe na parede direita do interior da capela uma imagem do Santo do nome do construtor, S. Bernardo, também em tons de azul. No canto inferior esquerdo desta imagem pode ver-se a inscrição “OUTEIRO ÁGUEDA” e, no canto inferior direito, “GOMES PORTO. PORTO – COIMBRA”. São as únicas alminhas da freguesia com nome escrito nas próprias: “Alminhas de Belide”. RIBEIRA DO SAIÃOAlminhas situadas na Ribeira do Saião, na berma da estrada Colmeal-Góis, pouco antes da Candosa. Foram mandadas construir em cumprimento de promessa pelas melhoras do pai, por Álvaro Miranda, da Candosa, em terreno da família. São umas alminhas de capela, com os respetivos bancos ao comprido de ambos os lados. O painel é em azulejo, com a imagem de Nossa Senhora do Carmo, a azul e com pormenores diferentes das alminhas do Carvalhal e Belide. Apresentam a particularidade das duas cruzes desenhadas na estrutura, por cima do painel.
SOBRALAs alminhas, situavam-se no caminho Colmeal-Sobral, no Caratão da Fonte das Almas. Eram só uma cruz em madeira, espetada na ponta de uma parede, em memória de um homem que terá ali falecido. Diz o meu pai que já lá estavam quando ele era pequeno e pouco falta para ter cem anos. “Enquanto o senhor Carlos Miranda foi vivo e pôde, quando a cruz apodrecia fazia outra e ia lá colocá-la. Quando deixou de poder, perdeu-se tudo!” (Maria da Conceição).
Havia umas outras alminhas no caminho para o Saião, construídas em memória de uma mulher que ali faleceu, vitimada por uma peste (raio). Eram duas que andavam ao mato, mas só ela é que foi atingida, quando estava a erguer o molho. SOITOAlminhas em forma de oratório, localizadas ao fundo da povoação, na berma da estrada para Malhada e Fajão. São parecidas com as do Torgal, no Colmeal, divergindo por serem um pouco mais largas e baixas e pelas paredes, que são revestidas e não construídas a xisto. O painel em azulejo e tons de azul representa também a imagem de Nossa Senhora de Fátima.
Estas alminhas foram construídas na sequência da abertura da estrada entre o Soito e a Malhada, pelo que terão cerca de quarenta anos. Foram feitas por Manuel de Carvalho, do Colmeal e mandadas construir por Abel Nunes de Almeida, do Soito, que teve a intenção de substituir umas que existiam na antiga estrada entre Colmeal e Soito. Situavam-se na primeira curva a seguir à ribeira do Soito, num sítio ainda hoje chamado “Almas”. Eram umas alminhas de alpendre em xisto, que teriam, segundo uns um painel em madeira, segundo outros, a atual imagem da Nossa Senhora de Fátima. Terão existido umas outras alminhas na povoação, junto a um chafariz.
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