“Aos romanos se deve atribuir a chamada “Levada dos Mouros”, que é uma importante obra hidráulica. Tem o se princípio junto ao lugar de Cavaleiros, na freguesia de Fajão, conselho de Pampilhosa, onde se dizem que ainda existem restos da barragem do Ceira, com o emprego daquele cimento de que ainda não se descobriu a composição. A levada é quase toda talhada na rocha, com raras intermitências que seriam construídas de alvenaria e com cerca de um metro de largo, e atravessando parte da freguesia de Fajão, a dos Cepos do concelho de Arganil, atravessa a nossa freguesia do Colmeal, depois a do Cadafaz, a seguir a de Góis, e vai, segundo uns, até Foques, segundo outros e a lenda, até perto de Bobadela. Vem seguindo sempre o curso do Ceira, próxima dele, entra no concelho de Góis entre o Açor e o rio, na altura da Ribeira de Ádela, passa debaixo da capela de S. Nicolau do Colmeal (que lhe foi construída em cima), na Candosa, na Sandinha, uns 800 m por cima da Cabreira, uns 20 m acima de Cortecega, na encosta do Rabadão, por cima do Vale de Mondego, um pouco abaixo da Senhora da Guia, estando ela feita um pouco da actual estrada para a Cabreira. Não conheço o seu percurso, mas baseio-me em informação de pessoas fidedignas e que o conhecem.”
(Mário Ramos em Arquivo Histórico de Góis)
* *
«(…) entra na freguesia pelo nascente, no sítio denominado Ribeira de Ádela, e a qual seguia sensivelmente o traçado actual da estrada, desde o Porto Ribeiro, Longo das Vinhas, Largo da Fonte, entrando no Porral em direcção ao Canto, onde a existência das primeiras habitações nos parece certa, mediante todas estas indicações. O Romano era um povo belicoso, combativo, e também era um verdadeiro povo de agricultores, onde se destaca o caso de o grande proprietário pegar na charrua e lavrar ao lado do pequeno agricultor. A levada foi concebida como conduta de água, com a finalidade de ao longo de todo o seu percurso (1) se proceder à separação de minérios e simultaneamente se regar os terrenos de cultivo, obtendo-se assim colheitas mais abundantes. Nas intermitências onde não havia rocha, era aplicada e adaptada, uma espécie de cal hidráulica, igual àquela utilizada na construção de condutas italianas, construídas no século I, antes da nossa era, e as quais ainda estão em funcionamento. A mina de Alfândega, que lendariamente se diz atravessar toda a Cova na sua extensão e que passa a algumas dezenas de metros abaixo do Centro Paroquial (2), foi perfurada com o fim de explorar o ouro, assim como a de Ádela (3), que também segundo a lenda, parece atravessar a serra em direcção a Celeviza.»
(1) Dizem ter tido início no local denominado Ponte de Cartamil e terminar em Bobadela. (2) Também aqui a lenda diz que a largos metros de profundidade a mina é interrompida, surgindo um grande poço e na sua frente uma estátua de guerreiro, «proibindo a passagem de intrusos». (3) No local foram em tempos, encontradas várias mós e peças de olaria, mas como nunca foram analisadas por pessoa competente, acabaram por se perder, desconhecendo-se o seu valor arqueológico.