Começou a época dos tortulhos (cogumelos), como são chamados na minha terra. Na nossa região são apenas apanhados, os tortulhos, cepas e sanchas (amarelas e brancas). É preciso ter muito cuidado ao apanhá-los, se não se conhecem é preferível deixá-los ficar do que trazê-los na dúvida para casa, pode ser fatal. Se as chuvas aparecerem mais cedo, por exemplo em Setembro, logo nesse mês começam a aparecer os tortulhos, mas a partir de Outubro, quando a humidade e as chuvas se fazem sentir com intensidade, vê-se parte da zona circundante a Cortecega com tortulhos. Espalham-se pelos montes, são encontrados nos terrenos de cultivo nos olivais em terras secas. Na minha terra natal (Cortecega), quando o tortulho (cogumelo) se encontra ainda fechado, chama-se maçaroco; são os preferidos, são mais saborosos e estão mais limpinhos por dentro. Há uns que aparecem no meio dos castanheiros e chamávamos-lhes os carquejas. Os tortulhos também é designação corrente extensiva aos cogumelos altos de chapéu, de cor creme e castanho com um anel no início do pé, confeccionados de várias formas. Mal caíam as primeiras chuvas e lá íamos nós pelos montes à procura deste saboroso petisco. Antigamente os tortulhos não eram cozinhados de tantas maneiras como são nos dias de hoje, assim deixo aqui a maneira como se fazia na minha aldeia. A minha mãe costumava lavar os tortulhos e espremia-os. Numa frigideira ponha um pouco de azeite, um dente de alho, juntava os tortulhos atrás referidos e polvilhava com farinha. Envolvia tudo, deixava cozinhar, acompanhávamos com broa. Para mim e para os meus irmãos, era um petisco só desta época do ano. Outra maneira, era fazer filhós de tortulhos. Deitava-se um pouco de farinha de trigo num alguidar, sal, os tortulhos depois de lavados e espremidos, amassavam-se bem. Depois eram fritos em azeite ou óleo bem quente em pequenas colheradas.