Tu, Penedo de Góis, és brioso, mostras-te bastante diferente, quer visto de lado ou de frente, mas sempre belo e grandioso.
Visto da Várzea, o Penedo não tem c’roa. É pico, informe, um cone que, não sendo enorme, não assusta e nem mete medo.
Visto de Góis, com a crista ao léu, pareces um imenso coração, com o vértice voltado pr’o céu.
Lá, nessa altaneira posição, costumas ter, às vezes, branco véu, que te cobre, nos dias de nevão. (1974)
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Lugares de minhas raízes
Lugares onde tenho raízes: Carcavelos é lugar paterno, e o das Ladeiras é materno, lá, os avós, vieram felizes!
Carcavelos, próximo ao Ceira, tem vales regados, trutas à mão, já as Ladeiras, em compensação, tem lindas vistas da nossa Beira!
Povos simples e familiares, gente humilde, honesta, de bem, têm amor a Deus, amor aos lares!
Sei que o lugar das Ladeiras tem bons panoramas e puros ares! Carcavelos tem bons ares também!
II Das Ladeiras vêm-se capelas, espalhadas p´los altos das serras, parecem abençoar as terras, umas são grandes, outras singelas.
Lá adiante vemos Senhora da Guia, mais longe, o Mont’Alto, a bonita capela no alto tem paisagem encantadora.
Dá-nos vontade de ir, num salto visitar as várias capelas, mesmo sem estradas… de asfalto.
Fé cristã há nessas sentinelas, que a crença velam, lá do alto, perto de céu, Deus está com elas. (1974)
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Góis e o Castelo
Da capela, onde foi castelo, vêem-se, em dias sem neblina, a forte ponte manuelina e o velho burgo, que é belo.
Ao fundo, o casario de Góis a beijar o claro rio Ceira, à tarde, coaxam rãs, à beira… cai a noite, trinam os rouxinóis.
O aspecto da vila é lindo, da lindeza, ela se ufana, desde a manhã até ao sol findo.
Góis, parece-me alentejana, branquejas como neve no Pindo, mas feição beiroa, não engana!
Nota – Conheci-o quando ambos éramos emigrantes em Belo Horizonte (Brasil). No nosso convívio, suspirava pela sua terra natal e versejava. “Em garoto, era zagal. Mas essa coisa de guardarmos gado, ovino ou caprino, não é, totalmente, uma profissão e, sim, um dever, que a imperiosa circunstância de quem não nasceu em berço de ouro obriga (…) Agora, na velhice, faço versos, sem ser poeta. Uma espécie de quebra-cabeças, como tantas outras”. Retornou a Góis e aqui morreu, centenário de idade, não de espírito. JNR