A vila de Góis Ao percorrer a terra portuguesa, Num sonho deslumbrante... cor-de-rosa, Vi tanta coisa bela e preciosa Que me deixou extática e surpresa!
Quedei-me entre obras de arte e de nobreza! Passei por muita vila donairosa, Mas não achei nenhuma mais formosa Que Góis, vestida qual uma princesa!
Encantava-a a verdura dos caminhos, A Igreja memorável, o Penedo E a Ponte Manuelina sobre o Ceira!
As águas em cascata nos moínhos E o sol no Rabadão, de manhã cedo, Faziam do meu sonho uma cegueira!
* *
A Banda de Góis Ao saudoso Maestro Sarrazola
Dá gosto ouvir a música de Góis, A Banda que mantém a tradição; Garbosa e aprumada, honra-nos pois, Por ser das mais gentis da região!
Quando ela passa, até os rouxinóis Calam os seus trinados, de emoção! Os instrumentos brilham como sóis, A dar-lhe colorido, animação.
Ao ritmo das suas melodias, Salta a criança, o velho se consola De vê-la regressar das romarias.
Merece a nossa Banda um elogio, E lembrarmos o Mestre Sarrazola, Que há anos a guiou com muito brio!
* *
José de Matos Cruz Um ano de muitas saudades
José da Matos Cruz lembra Saudades Dum ano que passou e de corrida… Deixando cá no mundo as Amizades E a nossa linda Várzea, tão querida!
Um convicto Cristão, sem ter vaidades, Serviu a terra e fê-la conhecida No Brasil e mais Comunidades Que através do “Varzeense” lhe deu Vida!
Um Homem instruído e de cultura! Parco não era por literatura, Com ânsias de saber, a cada passo.
Custa-nos fazer anos? Perguntava… Sabendo que lembrar-me não gostava, Ouvindo-me dizer: - Eu nunca faço!...
* *
O Ceira Um rio de encanto
Um Anjo celeste volita na altura, Mas perto do Ceira… queda-o a doçura!
Reclina-se breve e diz para si: Isto é um rio de excelsa moldura, Ornado de verde, como inda não vi!
Desenhando o mundo, coloriu-o Deus E deu-lhe o tom brando, que há lá nos Céus!
Enleva-o a graça que trouxe da serra, Notável beleza que vê nesta terra! Com muito carinho afaga os lajedos, As jovens que passam e dizem segredos… Num rumo ao Mondego lá segue, depois, Tão terno e saudoso, por entre arvoredos, Olhando encantado a Vila de Góis!
* *
Góis foi feita à luz da aurora
Góis foi feita à luz da aurora, Só com os Anjos e Deus E a Virgem Nossa Senhora, Pra dar a quem aqui mora A Paz santa que há nos Céus.
Góis foi feita de carinho, De rosas lindas também Que os Anjos devagarinho, A perfumar o caminho, Vão deitando terra além!
Góis foi feita de Amizade E de sonhos de encantar, Onde as almas, da Saudade, Descendo da Eternidade Passeiam pelo luar!
Góis foi feita de tal graça, Com montes para a abrigar, Que o Ceira, sempre que passa, Para o Mondego a enlaça Ansioso por a beijar.
Góis foi feita de colinas, De brasões e de Capelas, Com aldeias pequeninas, Donairosas, peregrinas, Ajardinadas e belas.
Gois foi feita de uma estrela E por Deus, com muito Amor, Para depois oferecê-la E mais tarde vir a tê-la Santa Maria Maior.
Góis foi feita de magia, Água pura e verde chão, Onde canta a cotovia E o melro com alegria No Castelo e Rabadão.
Góis foi feita à luz de Cristo, De penedos e montanhas; Com casas feitas de xisto, De um povo humilde e benquisto; Terra de mel e castanhas.
Góis foi feita duma história, Que, numa terra das Beiras, Com arte bem meritória Tem na Igreja a memória Da família dos Silveiras!
E em segredo Góis foi feita, Tendo até arte rupestre... De todas a mais eleita, Góis é sim obra perfeita Que saiu das mãos do Mestre!
* *
Roubaram a Senhora da Candosa
Roubaram a Senhora da Candosa, Deixando a Várzea sem uma valência. Nesta terra Cristã, bem sossegada, Quem a usurpou não tinha consciência.
Imagem por Jesus abençoada, Simbolizava a Mãe, em evidência, No Cerro da Candosa, iluminada Pra despertar de Deus a Providência!
Outras imagens foram, paramentos, Efeitos destes tormentosos tempos, Em que se diz: - se salve quem puder…
Não há Fé, nem respeito por ninguém E a justiça, sem freio, anda ao desdém Sem se cumprir a honra e o dever!
* *
Lençóis de neve
Lembravam brancos lençóis Estendidos sobre Góis, E açucenas lá na serra! Espécte’lo de pureza, Que nos deu a Natureza Para alindar a nossa terra!
Eram nove horas do dia, A neve pura caía, Como sendo alvos panos Tão brilhantes como a prata! Não esqueço esta data Que era o dia dos meus anos!
(quando, a 19 de Dezembro de 1991, o concelho se cobriu de neve)