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GÓIS EM VERSO
JOÃ
O DE CASTRO NUNES
Góis: como um feitiço!
O nome Góis tem magia,
não me sai do pensamento
quer de noite quer de dia,
a toda a hora e momento!
É como uma sinfonia
tocada num instrumento
da maior categoria
que me causa enleamento.
É, não sei por que motivo,
um topónimo local
estranhamente emotivo.
Com quatro letras escrito,
não existe em Portugal
outro nenhum tão bonito!
* *
Mais nobre do que pobre
A ideia que de Góis tenho na mente,
longe de ser a de uma zona pobre,
de certos bens essenciais carente,
é mais a de uma terra ilustre e nobre.
Pode orgulhar-se, como se tem dito,
do seu passado histórico servido
por donatários de alto gabarito
e de prestígio nunca desmentido.
Além de possuir um património
sem paralelo em múltiplos aspectos
por obra dos artistas mais selectos,
é Góis, até no seu sector campónio,
o burgo, a serra, a região talvez
onde melhor se fala o português!
* *
Cosmopolitismo
Devido ao bom cariz da sua gente,
amável, generosa, hospitaleira,
tornou-se Góis, no coração da Beira,
uma estância europeia com patente.
A cada passo chega gente nova
com armas e bagagens que se instala
na sua região para habitá-la,
como o poder autárquico comprova.
São estrangeiros que bem recebidos
e pela natureza surpreendidos
acabam por ficar na região.
Assim se vai enriquecendo a urbe
e seu concelho sem que se perturbe
a sua milenária tradição!
* *
Museu de Góis
Se bem que Góis se assuma só por si
como um burgo-museu por natureza,
só teria a ganhar, tenho a certeza,
com o Museu que em tempos concebi.
Albergaria, desde a pré-história,
diversos testemunhos do passado
bem como algum artístico legado
para perpetuar sua memória.
Museu de Góis teria por letreiro
ou preferentemente, em meu juízo,
Museu do Ceira, como eu quis primeiro.
Além de ser uma atracção futura
em termos de turismo, bem preciso,
daria à vila um timbre de cultura!
* *
Brilho perdido
O conjunto de quadros da matriz
do burgo aristocrático goiense
tem um grande valor, o que condiz
com a capela-mor a que pertence.
Devido à sua originalidade,
quer no desenho quer no colorido,
não possuem qualquer afinidade
com tudo o que entre nós é conhecido.
Acontece, porém, que necessitam
de algumas obras de conservação
por pessoal com acreditação.
Segundo os entendidos que as visitam,
aquelas quatro tábuas no total
são do melhor que existe em Portugal!
* *
Santa Maria Maior
Todas as Nossas Senhoras
são grandes por natureza,
todas sendo encantadoras,
todas de extrema beleza.
Há-as de vários tamanhos,
conforme o sítio ou lugar,
uma têm olhos castanhos,
outras azuis cor do mar.
Bonitas são todas elas,
todas são lindas e belas
pois são a Mãe de Senhor.
Em todas há santidade,
mas a de Góis, na verdade,
é de todas… a Maior!
* *
Ilurbeda
"Il est des lieux où souffle l’esprit”
Maurice Barrès
Andam deuses pagãos pelas vertentes
voltadas para a crista do Penedo
em cujo panorâmico fraguedo
há do seu génio provas evidentes.
A par do nome hispânico-latino
inscrito em duas árulas romanas
muitas gravuras há pré-lusitanas
sopradas pelo espírito divino.
Difícil é saber interpretar
o que as populações nos transmitiram
nos riscos que deixaram lá ficar.
Sem pretender qualquer decifração,
limito-me a dizer que elas sentiram
andarem deuses… por aquele chão!
* *
Realeza em Góis
De Góis o velho burgo senhoril
festivamente em arco embandeirou
para saudar, amável e gentil,
Sua Alteza Real que o visitou.
Foi há cem anos que precisamente
El-Rei D. Carlos fez igual visita,
que D. Duarte Pio, seu parente,
noutro contexto agora reedita.
Então, para o banquete oficial,
mandou-se vir de França, em porcelana,
um serviço de mesa especial.
De todo o território da comarca
é Góis a região que mais se ufana
de ter ficado na alma do Monarca!
* *
Azeite de Góis
Que tratos de polé sofre a azeitona
até chegar a ser azeite puro,
seja em que parte for, lugar ou zona,
sem se prever mudança no futuro!
Há sítios como Góis onde, porém,
o método seguido no lagar
é do melhor que a tradição mantém
na forma de o fazer e preparar.
Bom para o prato, à mesa da família,
também nos templos da comunidade
arde ante Deus à guisa de vigília.
Entre Arganil e o termo da Lousã
pela sua excelente qualidade
melhor azeite que o de Góis não há!
* *
O abantesma da matriz de Góis
Num quinhentista medalhão do tecto
por Luís da Silveira encomendado
a Diogo de Castilho, o arquitecto
daqueles tempos mais solicitado,
figura decepada uma cabeça
hirsuta, feia, trágica e horrenda
constituindo uma excelente peça
com nome epigrafado na legenda.
É o bíblico Holofernes, o feroz
perseguidor do povo da Judeia
a quem Judite deu um fim atroz.
Dada a similitude das feições,
quem desconhece… fica com a ideia
de ser o Holofernes de Midões!
* *
Chave na porta
Viver em paz, numa qualquer aldeia,
longe da insegurança da cidade,
vai-se tornando uma vulgar ideia
para escapar à criminalidade.
Tudo é questão, seja bonita ou feia,
de nela haver maior comodidade
quer nos acessos, coisa que rareia,
ou condições de habitabilidade.
É disso que o governo deveria
prioritariamente se ocupar
a fim de a situação não se agravar.
A quem viver deseja sem canseira,
tranquilamente, eu lhe aconselharia
a região da capital do Ceira!
* *
O meu brinde
À Drª Lurdes Castanheira
Tem Góis, Senhora, em vós os olhos postos
para elevardes o seu grau de vida,
tornando mais felizes, bem dispostos,
seus habitantes, deles condoída!
Há muito se esperava este momento
da vossa investidura na autarquia,
dado o vosso real conhecimento
das suas condições de carestia.
Mas não deixeis de dar toda a atenção
à persistente… valorização
do seu legado patrimonial!
Fazei de Góis, Senhora, a capital
da Beira-Serra em termos culturais,
raiz primordial… de tudo o mais!
* *
"Honoris causa"
Em Góis, da mão de Amigos, recebi
"honoris causa" a borla e o capelo
em cerimónia de sabor singelo,
como se impunha porventura ali.
De mim disseram coisas agradáveis,
excessivas por certo, exageradas,
coisas bonitas de um país de fadas,
mas de qualquer maneira inolvidáveis.
Achei que não devia agradecer,
porque não se agradece o galardão
que brota da raiz do coração.
Mas não deixei, contudo, de dizer
que sem a folha de hera que a embeleza
ruína alguma tem qualquer beleza!
* *
Goiense
É para mim goiense um adjectivo
que emprego quando quero traduzir
uma atitude, um modo de sentir
ilimitadamente admirativo.
Goiense é quanto me sugere o belo
desde o olhar daquela que eu amei
e a cuja vida a minha consagrei
até à ruça cor do seu cabelo.
Aplico-o, sem reservas, quando quero
frisar o que há de bom na natureza
e tudo o que altamente considero.
Goienses são, portanto, os meus poemas
de maior qualidade ou mais beleza
independentemente dos seus temas!
* *
Aldeias do xisto (1)
Vezes sem conta, em Góis, eu percorri
suas aldeias típicas de xisto;
não sei já quantas vezes por ali
andei sem pretender gabar-me disto.
Podia enumerá-las uma a uma,
desde Aigra Velha e Nova à Comareira,
mas eu prefiro não citar nenhuma
a fim de não pôr lenha na fogueira.
Por elas passa, julgo, em grande parte,
o futuro turístico de Góis,
que entre a montanha e a vila se reparte.
Falo por mim, que numa viva roda,
por ventos, chuvas, esquentados sóis,
trilhei aquela zona… hoje na moda!
* *
Góis em foco
Ao Engenheiro Dr. João Nogueira Ramos
Vamos todos ouvir falar de Góis,
a Góis antiga, a Góis senhorial,
a Góis do Ceira, a Góis do Cerejal,
onde é vulgar ouvir os rouxinóis!
Fala quem sabe, quem documentado
conhece a sua história secular,
os seus recantos, sem pestanejar,
porquanto nos seus termos foi criado.
Escutemo-lo, pois, atentamente
se queremos saber concretamente
que motivos tem Góis, caros amigos,
para se impor, por seus brasões antigos
e alma aristocrática que encerra,
entre as povoações da Beira-Serra!
* *
Pedagogia familiar
Nas famílias goienses predomina
um sentimento de aristocracia
não por razões de genealogia,
mas de nobreza de alma, que se ensina.
Tanto partilha deste sentimento
quem na vila reside ou fora dela:
goiense é todo aquele que revela
identidade de comportamento.
Do seu passado histórico orgulhoso,
todo o goiense nem por isso deixa
de ser acolhedor e prestimoso.
Socialmente quando promovido,
o cidadão goiense não se queixa
de em berço de ouro não haver nascido!
* *
Rei mago sem coroa
Nas tábuas quinhentistas da matriz
de Góis, meio de pé meio dobrado,
é ele, o donatário D. Luís,
que de rei mago está representado.
Vestido ricamente de brocado,
não é motivo para admiração
vê-lo daquele modo figurado
dado o seu gosto pela ostentação.
Guarda-mor do monarca e seu valido,
quando de embaixador foi recebido
por Carlos Quinto em terras de Castela,
causou sensacional deslumbramento
a sua escolta cheia de espavento
desde os arreios de ouro às vestes dela!
* *
D. João da Silveira
Herdeiro por direitos de nobreza
dos títulos do pai, senhor de Góis,
em Alcácer-Quibir, entre os heróis,
deu a alma a Deus nessa funesta empresa.
Acompanhando D. Sebastião
menino e moço cheio de ilusões,
honrou seus pergaminhos e brasões
cumprindo o seu dever de cortesão.
Nunca um senhor de Góis regateou
à Pátria e ao seu Rei por lealdade
seu próprio sangue, a vida e o porvir.
Também por ele, em Alcácer-Quibir,
de onde aos seus paços nunca mais tomou,
gemeram as guitarras ... da saudade!
* *
Engº Manuel Nogueira Ramos
Foi-se com ele para a sepultura,
na velha Góis dos seus antepassados,
um dos seus filhos mais qualificados
em termos de nobreza e de cultura.
Trato cortês, distinto de figura,
estou a vê-lo, modos educados,
costumes sociais afidalgados,
uma excelente e amável criatura!
Assim vai Góis perdendo os seus valores,
os seus aristocráticos senhores,
as suas mais notáveis personagens.
Que ao menos o padrão da sua vida,
que Deus chamou a si na hora devida,
de exemplo sirva às próximas linhagens!
* *
Dr. Mário Ramos
Mário Paredes Ramos esquecido
por muitos dos goienses tem andado
embora em seus estudos tenha sido
quem lhes patenteou o seu passado.
Quem pretender saber com precisão
alguma coisa sobre o que ocorreu
no velho burgo e sua região
consulte o Arquivo que ele promoveu.
Fonte de informação não há melhor
em todos os sentidos e matérias
desde as menos credíveis às mais sérias.
Nele tem Góis o seu cronista-mor,
sendo de lamentar que sua história
não seja objecto de maior memória!
* *
Roque
O Roque era uma boa criatura,
um santo sem altar, tolinho manso,
que não tinha repouso nem descanso
para poder viver naquela altura.
Recados aviava a toda a gente
e não havia em Góis quem não lhe desse
um pouco de comida que crescesse
para ir matando a fome cristãmente.
Pois apesar de nada ter de seu,
havia de comprar a lotaria…
para te dar o enxoval… um dia.
Morreu com essa fé: nunca jogou…
mas pelo sonho que por ti sonhou
o Roque deve agora estar no céu!
* *
Armando Gualter de Campos Nogueira
Quem mais que Armando Gualter defendeu,
em todos os debates em que entrou,
a sua terra, o burgo em que nasceu,
quem mais com ela se identificou?!...
Traz Góis nos lábios e no coração
desde menino e moço, sem jamais
esmorecer na sua devoção
pelas suas belezas naturais.
Sabe de cor e salteado tudo
o que respeita a Góis e, sobretudo,
de todos os goienses sabe o nome.
Por ele Góis… seria a capital
da Beira-Serra, dado o seu renome
e sua propensão… senhorial!
* *
Dr. Bernardo Baptista Ferreira
Perfeitamente bem o conheci:
tinha um carácter forte, independente,
que não sendo goiense propriamente
dava a impressão de haver nascido ali.
Era um “João Semana” sempre prestes
a atender os doentes, fosse dia
ou noite fora, a todos atendia
mesmo vivendo em alcantis agrestes.
Casado com senhora da nobreza,
não deixava por isso de se impor
por sua carismática lhaneza.
Era de riso fácil, prazenteiro,
maneiras a puxar a grão-senhor,
cortês, não cortesão nem lisonjeiro!
* *
Sonhar Brasis
Como pão para a boca é necessário
sonhar em grande, sem limitações,
ser-se arrojado, ser-se perdulário
no que respeita às nossas ambições.
Em toda a parte há Índias por achar,
continentes sem fim por descobrir,
até ao pé da porta, se calhar,
há minas de esmeraldas… a luzir.
O que interessa é ter-se uma alma grande
que nos inspire e, se preciso for,
nos puxe para o alto e nos comande.
Sem mais do que essa força interior
cada um pode encontrar o seu Brasil
na Pampilhosa, em Góis ou Arganil!
* *
Memorial
Serra do Boco em tempos se chamou
a que do Açor agora se apelida
e foi por Rui de Pina referida
na crónica afonsina que a citou.
Por lá passaram para a Covilhã
vindas da Várzea por caminho esconso
as hostes do Infante D. Afonso
sem chefe, sem comando, ao Deus dará.
Corria a primavera, mas o certo
é que o terreno estava ainda coberto
por neves sobrepostas ou "dobradas".
Muita gente morreu na travessia
assinaladamente nas chamadas
veredas do lugar de Albergaria!
* *
Titularidade
Com todo o peso que lhe dá a História
e o encanto que lhe vem da natureza,
a povoação de Góis é de certeza
no centro do país a mais notória.
Em pleno panorama sedativo
aos pés de aristocrático castelo
não há na região burgo mais belo
com seu traçado ainda primitivo.
Por suas ruas, templos, casario
mantendo todo o ar da Renascença,
durante a qual foi nobre senhorio,
acima da esperança, tenho a crença
que há-de alcançar a titularidade
de Património ou Bem da Humanidade!
* *
Regionalismo
É um produto, o Regionalismo,
do espírito beirão dos habitantes
das terras de Arganil e circundantes,
agora em fase de revivalismo.
Não é fácil dizer em que consiste
por muito que se saiba português:
é um modo de ser, de estar…talvez,
que só por estas bandas é que existe.
É um género local de sentimento
peculiar das condições de vida
impostas por um certo isolamento.
Passa por dar valor à região,
pre stando-lhe a atenção que lhe é devida
face ao alheamento da nação!
* *
Pedras do Lumiar
Pedras do Lumiar, altos Penedos
quartzíticos, silúricos, de Góis,
quisera desvendar vossos segredos
para os contar a quem vier depois!
Com mais de quatrocentos milhões de anos
contendes os vestígios de animais
que se moviam pelos oceanos
nessas remotas eras abissais.
Devido porventura à imponência
do vosso aspecto fostes entretanto
considerados como lugar santo.
Populações de ignota procedência
que nas vossas vertentes se instalaram
sinais de si no xisto nos legaram!
* *
O painel goiense dos Reis Magos
Que original é o quadro dos Reis Magos
que na igreja de Góis está patente,
sendo de lamentar os seus estragos
por obra só do tempo certamente.
Nunca vi cena tão encantadora
dando nas vistas, antes de mais nada,
o lindo rosto de Nossa Senhora
tão expressivamente recatada.
Também me toca muito o coração
o Menino estendendo a sua mão
ao mais barbudo rei da comitiva,
o qual, ao que parece, faz tenção
de lha beijar de forma alternativa
entre veneradora e afectiva!
* *
Objurgatória
Quem do Museu, que foi minha paixão,
na vila de Arganil organizado
por minha iniciativa, é o ladrão
do monumento ali depositado?
Como se disse no comunicado
a que foi dada larga difusão,
era uma ara romana, cujo achado
não se verificou na região.
Era de Góis e dedicada estava
à divindade indígena Ilurbeda
que por aqueles sítios se adorava.
Seja quem for o seu depredador,
que ela o castigue em lenta labareda
até que em seu lugar a volte a pôr!
* *
Pobres de espírito
in memoriam
Em certas terras, vilas e cidades,
é frequente verem-se uns tolinhos
que, originando às vezes burburinhos,
são incapazes de fazer maldades.
Conheci muitos pelo país fora,
almas lavadas, corações de pombo:
seu nome não figura em nenhum tombo
nem autarquia alguma os comemora.
Dou como exemplo, em Góis, o bom do Mário,
inofensivo como foi o Roque,
embora não iguais, pelo contrário.
Sem ter de seu um único ceitil,
como ninguém merece que se evoque
o Toninho Espanhol, em Arganil!
* *
A dança goiense do baião
Na Quinta do Baião, junto do Ceira,
em Góis, que é região de fidalguia,
passou-se muita história verdadeira
que não deixar morrer importaria.
Foi um solar de gente da nobreza,
como se nota sem dificuldade
devido ao seu aspecto de grandeza,
que ainda se mantém na actualidade.
Comprada pela Câmara, tem sido
objecto, sabe Deus por que razões,
de trocas e baldrocas sem sentido.
Há que pôr termo a estas confusões
por se tratar de um bem municipal
de grande relevância cultural!
* *
A Casa das Ferreirinhas
No Largo do Pombal considerado
em Góis a sua sala de visitas
foi demolido o prédio abandonado
das Ferreirinhas vulgarmente ditas.
Sem requerer nem aguardar despacho
da suprema entidade competente
pela autarquia foi deitado abaixo
na mira de um arranjo pertinente.
A verdade porém é que ainda agora
por mais que se lamente esta demora
tudo no mesmo estado permanece.
O caso é que, tirando o Paço Velho,
se trata do solar que se conhece
mais singular da sede do concelho!
* *
Em Góis te vejo em tudo
Em Góis, que foi teu berço, junto ao Ceira,
vejo o teu nome escrito em toda a parte
desde que eu comecei a namorar-te
e nunca mais saí da tua beira.
Vejo-o no peitoril abençoado
da janela que deita para a frente
da casa onde moravas e que a gente
gastou de horas sem fim lá ter passado.
Vejo-o no Cerejal onde o gravei
em cada tronco de árvore no centro
de um coração, de forma a caber dentro.
Vejo-o na capelinha em que casei
em pleno inverno, a meio de Dezembro,
numa manhã de sol, se bem me lembro!
* *
Por Semelhança
Com este nome ou outro, não importa,
Deus que tudo conhece e tudo pode
e do capote seu nada sacode
nem a pessoa alguma fecha a porta,
dá-se ao luxo, negado ao ser humano,
de sem qualquer espécie de excepção
falar todas as línguas em função
do seu poder augusto e soberano.
Entre elas fala a língua portuguesa
em toda a sua máxima pureza
à maneira de Góis e vizinhança.
Desde, porém, que à sua mão direita
minha mulher sentou, por semelhança
sua pronúncia ainda é mais perfeita!
* *
Portela do Vento
"Silence! y sont les dieux!"
Àquele chão por onde tanta vez,
fizesse sol ou chuva, caminhei
com minha científica avidez
"inspiradas colinas" chamarei!
É que, passados mais de dois mil anos,
ainda hoje ali se sente palpitar
a alma dos povos celtas e romanos
que optaram por viver nesse lugar.
Vieram com seus deuses que deixaram
onomasticamente registados
em monumentos… entretanto achados.
Por isso aqueles sítios montanhosos
profundamente sempre me inspiraram
respeito e sentimentos… piedosos!
* *
Insofismável
Conforme em meus sonetos se propala,
seja a vila de Góis a capital
de todos os países cuja fala
é a portuguesa língua maternal!
Quer na pronúncia ou no vocabulário
quer na sintaxe ou forma de expressar-se,
Góis é como um perfeito relicário
da língua de Camões… sem duvidar-se.
Esta local… particularidade
raízes deve ter na sociedade
que o seu percurso histórico marcou.
A par dos monumentos que ela herdou,
de pedra e cal, de prata e de marfim,
o idioma é a flor melhor do seu jardim!
* *
Senhora da Candosa
Senhora dos Remédios da Candosa,
entre fraguedos, sobre o rio Ceira,
por consideração por minha esposa,
que foi vossa devota verdadeira,
aliviai minha alma lastimosa,
tão sofredora e fora de maneira
que só de vós se fia, ó piedosa
Senhora da Candosa milagreira!
Senhora dos Remédios, por favor,
dai-me um remédio para a minha dor
que não tem termo de comparação!
Onde há maior moléstia, Virgem Mãe,
Mãe de Jesus e minha Mãe também,
que o corrosivo mal do coração?!
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Aldeias do xisto (2)
As aldeias do xisto fazem parte
do património cultural goiense:
são como um seu turístico estandarte,
não havendo ninguém que assim não pense.
São limpas, asseadas e airosas,
convidativas, cheias de motivos
para atrair pessoas curiosas
dos seus inconfundíveis atractivos.
Estão sempre varridas a preceito,
com suas casas muito elementares
mas de agradável e bonito efeito.
Comida sã, lençóis de puro linho,
costumes ancestrais, familiares,
aldeias a cheirar a rosmaninho!
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Clarisse Barata Sanches:
Uma glória goiense
A sua inspiração, Distinta Amiga,
é muito simplesmente inesgotável
e quanto ao seu valor não sei que diga
senão que me parece incomparável!
Tudo lhe serve para versejar,
dando prioridade à Natureza
e a tudo quanto possa ter lugar
nos seus altos conceitos de Beleza.
Não há matéria nobre que não tenha
nos seus belos sonetos cabimento
sempre de primoroso tratamento.
Que nunca em sua mente falte lenha
para aquecer os nossos corações
com suas talentosas criações
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Os Góis
Góis de apelido ou Goes talvez primeiro,
há muita gente assim denominada
e por diversas causas espalhada
no território luso-brasileiro.
Herdado ou simplesmente procedente
da respectiva zona ou região,
tirando os raros casos de brasão
tornou-se um antropónimo corrente.
Conforme alguém com créditos firmados
nos estudos históricos ligados
à vida do concelho deste nome,
longe chegou o áulico apelido
que à dita cuja vila anda cingido
por qualquer lado ou prisma que se tome!
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D. Luís da Silveira
Grande embaixada chega à capital
de Carlos V, em terras de Castela:
garbosamente vai à testa dela
o guarda-mor do Rei de Portugal.
Veste o senhor de Góis à portuguesa
a fim de impressionar os castelhanos,
austeros, graves, frente aos lusitanos
que gostam de ostentar sua grandeza.
Leva o encargo de em Valhadoli
apalavrar a boda das irmãs
de ambos os soberanos entre si.
Saiu-se bem: agradecendo ao céu,
ei-lo com seus brasões e lorigãs
ajoelhado sobre o mausoléu!
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D. Gonçalo da Silveira
Beatriz de Noronha, descendente
do sexto marechal de Portugal,
foi sepultada em Góis conjuntamente
com seu marido, guarda-mor real.
Foi um casal perfeito, cujos filhos,
que em número de dez ambos tiveram,
não se afastaram nunca dos seus trilhos
e por diversos modos se impuseram.
O mais novo, chamado D. Gonçalo,
custou a vida à mãe quando nasceu,
abrindo-lhe o caminho para o céu!
Morrendo ao dar à luz um filho santo,
a donatária aguarda que, entretanto,
a Igreja se disponha a homologá-lo!
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O último Silveira
Em pé, de corpo inteiro, sobre a tela,
vestido de armadura de parada,
gola branca de folhos, engomada,
à maneira da corte de Castela,
eis o terceiro conde de Sortelha,
senhor de Góis e D.Luis de nome,
Silveira de apelido e de renome
prócere ilustre da nobreza velha!
Da boca do mastim posto ao seu lado
pende-lhe em ferro o guante descalçado
de uma das mãos de fina contextura.
No canto esquerdo, ao cimo, da pintura
à laia de brasão vê-se a figura
de flecha a prumo em arco retesado!
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João Alves Simões
João Alves Simões, amigo meu
que muito estimo e prezo, à sua custa
subiu a pulso e por maneira justa
à posição que tem e mereceu.
Admiro-lhe a indómita vontade
de triunfar na vida social
mantendo embora o porte pessoal
da sua originária identidade.
Ufana-se de ser "um pé rapado"
que em berço d' ouro, em brasonado lar,
não foi nascido e menos embalado.
Sem desdenhar sua ascendência pobre,
plebeu de facto, como faz notar,
entre os mais nobres não é menos nobre!
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Maria de Lourdes Guimarães
Em Góis nasceu, em Góis a namorei,
a Maria de Lourdes Guimarães,
com quem na capelinha me casei
mandada construir, além do mais,
pelo senhor da povoação de Góis
e conde de Sortelha, guarda-mor
de D. João Terceiro, embaixador,
que em Góis viria a falecer depois.
Recordo a vila sempre com saudade
pois lá passei românticos momentos
de rara e juvenil felicidade.
Sempre que lhe ouço o nome ou quando o leio,
é para lá que vão meus pensamentos
pois foi dali que minha esposa veio.
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Alice Sande
Miniaturista exímia, Alice Sande,
em Góis, na sua terra, junto ao Ceira,
como artista que foi, distinta e grande,
de si deixou memória lisonjeira.
Aristocrata de raiz e modos,
já de criança tinha a favor seu
as condições e requisitos todos
para se impor no meio em que viveu.
Justa homenagem, pois, e merecida
é, sem dúvida alguma, a que a autarquia
hoje lhe presta… pela sua vida
entregue às artes, que ela cultivou
com invulgar talento, com mestria
patente nos trabalhos que deixou!
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Fidalgo
Cortês de modos e Cortez de nome,
o médico de Góis, Doutor Diogo,
era um grande senhor que desde logo
nunca do meu espírito se some.
No copo de água com que terminou
a minha boda em sala apalaçada
com pinturas no tecto decorada
foi ele quem brindou e discursou.
Era eu então ainda um escolar
em fim de curso, por licenciar,
a quem vaticinou ventos felizes.
Deus o ouviu, pois a verdade é esta:
em todos os aspectos e matizes
a nossa vida foi… sempre uma festa!
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