PESSOAS
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«São raras, nos tempos de agora, as antigas propensões para as artes em que certas delicadezas técnicas e o amor da minúcia se impunham acima doutras tendências de espírito. Por isso, me surpreendeu o programa de trabalho exposto por Maria Alice Ramos quando certo dia me procurou no intento de estudar comigo algo e servisse de base à difícil tarefa de pintar miniaturas.
(...) Miniaturista e iluministas encheram a arte francesa sob a protecção de João-O-Bom e de Carlos V.. Filipe de Bourgonha, e, talvez mais tarde do que ele, o duque de Berry, notável impulso haviam dado também à miniatura, que em Fouquet teve, porventura, o seu mais cotado realizador. Para nós, portugueses, a miniatura só mais tarde se desenvolveu; tentou-a Josefa de Óbidos, embora com técnica diferente daquela que depois se adoptou, como fez, por exemplo, Inácio Valente e outros já nos finais do século XVIII: Muito há que louvar, pois, a corajosa iniciativa de Maria Alice Ramos em ter posto na causa toda a sua paixão artística, curvando-se, pacientemente e com admirável escrúpulo, sobre as finas lamelas de marfim onde deixa - ponto a ponto, como pérolas de cintilante beleza - obras de merecido apreço que, de ano para ano, saberá enaltecer com a tenacidade e as virtudes do deu espírito.» Armando de Lucena |